Terça-feira, 10 de Abril de 2007

התקוה

«Chego pelo Kontratempos (sempre ele, no que a estas matérias diz respeito...) a uma gravação do Hatikvah, datada de 1945.
O Hatikvah é, para mim, o mais bonito hino de todos os hinos que conheço - e conheço muitos, que parte da minha infância foi passada a olhar para mapas, bandeiras, capitais e letras de hinos, tentando sempre que possível encontrar registo sonoro dos mesmos. E muito antes de sequer perceber o simbolismo e a mensagem que transporta, elegi o Hatikvah como o mais bonito de todos.Mais tarde, quando tive idade para perceber e sensibilidade para escolher, quando o meu fascínio por Israel se alastrou, dei por mim a chorar enquanto o ouvia, assumo-o sem qualquer espécie de vergonha. É mais forte do que eu, e presumo que cada um de nós tenha um bocado de si a emocionar-se demais com um ou outro assunto (há quem lhes chame causas).Cantado pelos sobreviventes do campo de concentração de Bergen-Belsen, o
Hatikvah da gravação não passou por mim sem deixar a sua marca nos meus olhos.E porque se aproxima o Dia de Lembrança dos Mártires e Heróis do Holocausto, aqui fica a canção de esperança. Porque, como já uma vez disse, só isso pode ter suportado os que sobreviveram e só isso pode ter alentado os que pereceram.»
Adolfo Mesquita Nunes, 4 de Abril de 2007, no A Arte da Fuga
publicado por MJ às 16:45
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«A Esperança»

Carlos Miguel Fernandes, Varsóvia (Cemitério Judeu), Outubro de 2005

«Em Setembro de 2005 iniciei na Polónia, país que nunca havia visitado, a periódica viagem pela Europa Central. Em Varsóvia caminhei pela zona do gueto, hoje enterrado pela História e pela reconstrução da cidade, e entrei no cemitério judeu, invadido nesse dia por uma imensa excursão de jovens israelitas. O chão estava salpicado de pequenas bandeiras de Israel. Bandeiras estrangeiras em solo polaco! A visão incomodou-me um pouco na altura, mas nos meses seguintes compreendi melhor a situação e aceitei-a definitivamente. Na verdade, nos meses seguintes compreendi muita coisa. Andava há anos a chafurdar na Europa e na História, mas foi na Polónia que comecei a vislumbrar algo por detrás da poeira levantada pelo agitado século XX. E foi nesse dia, no cemitério, que recebi um impulso definitivo que me empurraria de vez para lá de um beco que parecia não ter saída. Junto ao que mais tarde descobri ser a vala comum das vítimas do gueto, juntara-se um dos muitos grupos em que se haviam dividido os jovens da excursão. Um adulto parecia explicar-lhes o significado do espaço. Quando me afastei já cantavam o HaTikva, o hino israelita, num sussurro dorido e envolvente. Deixei o cemitério com a melodia a ecoar nos ouvidos e a romper-me a alma com delicadeza. Soube nessa altura que encontrara o punctum da viagem. Três semanas depois regressei e fotografei o chão sagrado. A imagem viria a ser o alicerce central no qual se sustentou
MittelEur/opa, um trabalho que não teria passado de uma caricatura sem a viagem à Polónia.
Lembrei-me de tudo isto a propósito do HaTikva cantado pelos sobreviventes de Bergen-Belsen, que encontrei ontem no A Arte da Fuga e que me fez regressar finalmente à Europa, depois de um período de latência em que a cabeça teimou em ficar do outro lado do mundo. Regressei à Europa via Israel. Haverá outra forma de o fazer?
Há alguns anos comprei em Novi Sad o disco Na Kapijama tjovim, o, Jerusalime/At Thy Gates, o, Jerusalem, do grupo Shira Utfila, originário de Belgrado e guardião da tradição musical dos judeus sefarditas. O trabalho termina com o HaTikva cantado em hebreu, ladino e judeu-árabe. Dada a origem da banda e do disco, os títulos dos temas têm tradução em servo-croata, e Nada é a perturbante tradução de HaTikva, a Esperança. Nada! É a isso que muitos querem reduzir Israel e a esperança. A nada. A cinzas. »
Carlos Miguel Fernandes, 06 de Abril de 2007, no No Mundo
publicado por MJ às 16:12
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