Sábado, 30 de Junho de 2007

O Yad Vashem da Polónia

Foi demarcada em Varsóvia, na Polônia, uma área de 13 mil metros quadrados, no local em que antes da II Guerra Mundial ficava o bairro judaico, em frente ao Monumento dos Heróis do Gueto, da renomada escultora N. Rappaport. Era exatamente nessa área que se localizava o Gueto de Varsóvia e é onde será construído, nos próximos anos, o Museu da História dos Judeus Poloneses que, como o nome diz, será dedicado à história da comunidade judaica no país. Para o diretor do projeto, Jerzy Halbersztadt, as novas instalações serão uma espécie de museu virtual, uma mescla de conteúdos e tecnologia interativa.
Segundo estudiosos, este projeto é o passo mais significativo já dado pelas autoridades polonesas, nos últimos dez anos, no processo de reconciliação com o povo judeu. A coordenação geral do museu está a cargo dos professores Israel Gutman, ex-historiador-chefe do Yad Vashem, em Jerusalém, e do professor Felix Tych, diretor do Instituto Histórico Judaico da Polônia. O prédio abrigará 133 exposições permanentes, retratando cerca de mil anos de história.
O arquiteto Frank Gehry – cujos pais vieram de Lodz – responsável pelo design do famoso Museu Guggenheim, em Bilbao, Espanha, aceitou o convite para projetar o Museu de Varsóvia. O acervo incluirá objetos de várias épocas, e até partes de jornais distribuídos no gueto, em 1942, quando os judeus estavam sendo deportados em massa para o campo da morte de Treblinka. Haverá, também, exposições sobre as diferentes fases da vida judaica no país.
O primeiro-ministro polonês, Leszek Miller, também se pronunciou, recentemente, sobre a integração da comunidade judaica em seu país, no passado. Ressaltou que, durante a Idade Média, quando os judeus da Europa eram expulsos da Inglaterra e da França, os governantes da Polônia, Henrique, o Piedoso, e Casimiro, o Grande, garantiam aos judeus os seus privilégios e a sua segurança, além de prover-lhes autonomia na administração de sua vida. “Foram estas circunstâncias que permitiram o desenvolvimento da cultura judaica na Polônia. O desaparecimento do judaísmo polonês foi uma grande perda não apenas para o mundo judaico, mas para a humanidade, como um todo, e contribuiu para o empobrecimento da própria Polônia. Nós temos a obrigação de restaurar a memória dos judeus poloneses e transmiti-la às futuras gerações”, afirmou o primeiro-ministro.

Thiago Cohen no Aliterações, metáforas e oxímoros
publicado por MJ às 19:36
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Quinta-feira, 28 de Junho de 2007

Muzeum Historii Żydów Polskich

O Museu da História dos Judeus Polacos inagurou hoje a versão inglesa do seu website.
Das galerias com as exposições permanentes deste futuro museu destacamos «O Holocausto dos Judeus Polacos 1939-1944» onde constará vária documentação, relacionada com os guetos de Varsóvia e Łódź e de outras cidades polacas e utilizada para mostrar a vida e morte de milhões de judeus polacos e europeus, antes e durante as acções de extermínio em massa. Nesta galeria estão presentes objectos que representam essa época mas não os horríveis eventos. Ali é proposto uma mostra das situações extremas e dos trágicos momentos que afectaram vítimas e testemunhas dos dois lados do muro.
publicado por MJ às 20:30
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Unesco muda a designação de Auschwitz

A pedido da Polónia que não quer que as futuras gerações pensem que este país teve algo a ver com o extermínio dos judeus praticado por Adolf Hitler, a UNESCO mudou o nome de «Campo de Concentração de Auschwitz» para «Auschwitz-Birkenau. Campo de Concentração e de Extermínio Nazi-Alemão (1940-1945)».
publicado por MJ às 10:29
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Segunda-feira, 18 de Junho de 2007

Campo de Concentracão de Auschwitz-Birkenau 2001

Na Primavera de 2001 Paulo Frank visitou o campo de extermínio de Auschwitz. São os apontamentos e as memórias desse local que agora aqui partilha connosco:
Libertos mas desorientados, perguntaram: "Para onde iremos?" E a resposta seca do soldado foi: "Olhem para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste: em qualquer lugar não quererão vocês!" Então, esqueléticos mas com uma chama viva em seu olhar, contemplam uma colina onde uma multidão de sobreviventes na mesma situacão canta: "Yerushalayin Shel Zahav Ve-Shel NechoshetVe-Shel Or", que quer dizer "Jerusalém de ouro, de luz e de bronze, sou o violino para todas as tuas cancões". Sim, em Jerusalém eles seriam estabelecidos, cumprindo-se profecias milenares. E assim eu assistia emocionado as últimas cenas do filme "A Lista de Schindler", de Steven Spilberg, que conquistou 8 Oscars na Academia de cinema, tornando-se o mais famoso de todos os filmes do tema Holocausto, a respeito do qual tantos livros lera.
Vivendo na Finlândia desde 1999, quando planejei minhas férias, incluí uma visita à Polônia, precisamente ao campo de concentracão de Auschwitz-Birkenau, chamado de o maior cemitério do mundo e memorial do martírio de judeus, poloneses políticos, ciganos e outras minorias perseguidas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Antes de ingressarmos no local, assiste-se a um documentário de 20min. que mostra as atrocidades cometidas pelos nazistas, e muito do que vimos projetado veríamos ao vivo momentos depois. A duracão da turnê é de 3 horas e, surpreendenetemente, há milhares de pessoas visitando o campo diariamente - inclusive grupos de Israel e mesmo da Alemanha, o país que mais colabora para a manutencão do lugar, que foi estrategicamente escolhido pelos nazistas uma vez que se situa no centro da Europa, quase a mesma distância a ser percorrida pelos trens que faziam a deportacão de diversos países.

Logo à entrada do campo de Auschwitz depara o visitante com a irônica inscricão em ferro: "Arbeit macht frei" (O trabalho liberta) e visitando os diversos prédios de dois andares pode-se ver, através de gigantescas vitrinas, exposicões de malas portando ainda os nomes de seus donos, de roupas, de sapatos (uma somente de sapatos de crianca), de óculos, de escovas, de cabelos (há uma amostra do tecido feito de cabelos) e, além de outras ainda, a dos chales de oracão de judeus, o que me emocionou e fez-me pegar a máquina fotográfica.

A visita continuava ao campo de Birkenau, a 5km dali, cuja estrada de ferro - com seus trilhos originais - atravessa um prédio com sua torre de vigia (foto), lugar conhecido de filmes e documentários. A perderem-se de vista, a partir dali, barracões de madeira e de alvenaria com suas respectivas guaritas e cercas antes eletrificadas. Visitamos diversos e vimos as camas onde se amontoavam os prisioneiros. Muitos prédios foram preservados em ruínas, com opropósito de mostrar que foram destruídos de forma proposital antes da chegada dos russos e dos americanos para liberarem o campo.

Em dado momento fiquei para trás do meu grupo. Estava no "lugar de selecão" junto aos trilhos (foto), devidamente ilustrado com ampliacões de antigas fotos, as quais se vê em muitos lugares. Logo ao desembarcarem, um médico nazista examinava superficialmente a pessoa e seu dedo polegar para cima ou para baixo determinava o seu destino: os trabalhos forcados ou imediatamente para as câmaras de gás... E assim milhões de homens, mulheres e criancas foram direto para as câmaras de gas, julgando que eram conduzidas a um"banho desinfetante".

Vimos réplicas das câmaras e também dos fornos crematórios, uma vez que os originais foram cuidadosamente destruídos para remover as evidências das atrocidades perpetradas pelos nazistas. Em volta dos prédios das câmaras de gás, para efeito de propaganda, havia um belo jardim florido. Vimos no mesmo local ruínas da casa do diretor do campo, e o local onde seus filhos brincavam como se nada estivesse acontecendo, retratados fielmente no filme de Steven Spilberg.Finalizando a turnê, nosso guia nos conduziu a um grande monumento em memória dos mortos, no fundo do campo, mencionando que caminhávamos sobre as cinzas de milhões de pessoas. No monumento, inscricões nos principais idiomas dos prisioneiros. Fiquei feliz por não encontrar nenhuma inscricão em português ou mesmo em finlandês! Segundo contava o meu saudoso sogro, o presidente da Finlândia, tendo como pretexto Obadias, vs. 11 a 14, não entregou os seus judeus aos nazistas.

Deixando o significativo e sinistro local, andei sozinho de volta à entrada do campo naquela tarde ensolarada na qual soprava um leve vento de primavera. Ao longo da caminhada, o texto bíblico de Isaías 53, que se refere ao sofrimento e morte do Messias, Jesus, como nunca sentia aplicacão à morte do povo judeu naquele e em outros campos de concentracão: ... desprezado... o mais rejeitado... de dores... oprimido... traspassado... moído... pisado... humilhado... como cordeiro levado ao matadouro... como ovelha muda perante seus tosquiadores (no caso, seus algozes) não abriu a sua boca (segundo sobreviventes, muitos morriam calados). Mais tarde, comentando com um estudioso da Bíblia o facto de o livro de Isaías ter-me vindo estranha e tão fortemente à lembranca em Birkenau, falou-me que o texto que pela primeira vez eu associava também ao extermínio dos judeus de fato tem sido aplicado ao holocausto, o que eu desconhecia até então.E estranhei também o sentimento de paz que me inundou naquela visita, paz provinda da fé de que o Messias certamente Se revelou àquelas pessoas antes de sua morte e as recolheu para Si. Foi uma experiência e tanto, somada a tantas outras, como à visita ao Museu Anne Frank em Amsterdam, à dramatizacão que fizemos do seu Diário, tendo sido assistida por um sobrevivente de Auschwitz, e a tantos livros, reportagens, depoimentos e filmes acerca do Holocausto. Algo de que não me esqueco é a declaracão de um rabino na TV: "A maior vinganca contra Hitler é o facto de judeus viverem actualmente na Alemanha e terem suas sinagogas, museus, associacões e monumentos. De facto, impressionei-me ao visitar Berlim ao ver uma grande placa à porta de uma estacão de metrô onde eram enumerados os diversos campos de concentracão nazistas e os dizeres "Não esquecamos".

Por certo o que de mais recente li sobre o Holocausto seja isto: Pelas cidades de toda a Alemanha, pequenas placas metálicas estão sendo implantadas nas calçadas diante de determinadas casas. Um artista alemão criou-as e chamou-as "pedras de tropeço". Em cada uma delas há a inscricão do nome dos antigos proprietários da casa confiscada pelos nazistas, as datas de nascimento e também as datas e locais onde morreram. Gunter Deming, o criador dessas placas, declarou: "Podemos abrir um livro e ler a respeito dos seis milhões de judeus exterminados, juntamente com cinco milhões de outras pessoas, mas mesmo assim talvez não possamos chegar à profundidade do que ocorreu. Mas se, ao ver a placa, nos lembramos de que um homem ou uma mulher - ou mesmo uma família - que viveram naquela casa específica morreram no Holocausto, é muito diferente!" "A pena de Anne Frank foi mais poderosa do que a espada de Hitler", alguém sabiamente escreveu. Outro declarou: "Os judeus foram exterminados por um homem que, por querer se adorado como deus, odiava principalmente o povo de Deus."E, finalizando, recomendo a leitura do livro "Exodus", de Leon Uris, o qual li há precisamente 40 anos, perdurando o meu grande amor pelo povo judeu desde aquele longínquo ano de 1966.
publicado por MJ às 22:08
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Terça-feira, 5 de Junho de 2007

Depois de Anne Franck, Rutka Laskier

Uma polaca que estava na posse do diário de uma jovem judia polaca assassinada em Auschwitz em 1943, acaba de oferecer o manuscrito ao memorial Yad Vashem, em Jerusalém. O diário de Rutka Laskier, na altura com 14 anos, foi encontrado dentro de uma lata. Segundo o porta-voz do Yad Vashem, Rutka Laskier foi imediatamente assassinada após a sua chegada ao campo de extermino de Auschwitz. O diário foi publicado em polaco este ano e já está traduzido em hebraico e inglês.
publicado por MJ às 19:12
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Domingo, 27 de Maio de 2007

Visita virtual a Auschwitz/Birkenau

A Virtual Tour of Auschwitz/Birkenau
publicado por MJ às 23:26
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David Irving expulso da feira do livro de Varsóvia

David Irving, o controverso autor britânico, conhecido por ter negado a existência do Holocausto, foi expulso da Feira Internacional do Livro de Varsóvia, onde se tinha deslocado a convite da editora Focal Point.
"Propagar o anti-semitismo e desculpar Hitler são ofensas na Polónia", disse Dorota Koman, uma das organizadoras do evento.
"Na Polónia não há liberdade de expressão", disse o autor ao sair da feira.
Nos últimos anos, onze livros do historiador foram traduzidos para o polaco, mas não é muito conhecido no país.
publicado por MJ às 23:05
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2007

IAF - Eagles over Auschwitz



Encontrei no blogue Galiza-Israel um vídeo, realizado em 4 de Setembro de 2003, com uma cerimónia profundamente emotiva e plena de significado simbólico: aviões da Força Aérea israelita sobrevoam o campo de extermínio de Auschwitz. No mesmo blogue coloca-se a questão: Porque é que os Aliados, sabendo da existência dos campos de extermínio, não bombardearam as vias de acesso?
publicado por MJ às 10:21
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Terça-feira, 1 de Maio de 2007

Auschwitz

publicado por MJ às 20:18
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Sexta-feira, 13 de Abril de 2007

A Sublevação do Gueto de Varsóvia

O Gueto de Varsóvia foi estabelecido formalmente em 2 de Outubro de 1940. Seis semanas mais tarde, em 15 de Novembro, foi cercado por muros, como se vê nesta foto de 1941. No gueto, os direitos dos judeus eram limitados, as suas condições de vida eram deploráveis e estavam restritos a uma pequena área, facilitando a deportação para os campos de extermínio.


Durante a Segunda Guerra Mundial, num dos períodos mais sanguinários da história da Humanidade, a perseguição aos judeus assumia proporções inéditas nos países ocupados pela Alemanha.
Fiel ao programa de eliminação dos judeus, traçado no livro Mein Kampf (A Minha Luta), Hitler estava determinado a atingir os seus objectivos e a realizar a sua obra. Grande parte dos judeus que tinham sido deportados da Alemanha e da Áustria já haviam morrido nos campos de concentração, enquanto milhares de outros estavam a caminho do mesmo trágico fim.
No entanto, o destino final das vítimas ainda era ignorado pela maioria. Apenas o Vaticano, em função da presença dos representantes ao redor dos campos da morte nazis, tinha informações precisas sobre o que estava acontecendo aos judeus. Porém, apesar de receber constantemente relatórios sobre os factos, o papa Pio XII – então líder supremo da Igreja Católica – permaneceu calado. Nada, então, podia deter o monstruoso plano de extermínio de Hitler, face ao silêncio daquela que era a única potência moral que detinha o poder e os meios para modificar a grande indiferença – ou mesmo conivência –dos habitantes das povoações de onde os judeus eram deportados.
[...] A parte que tocou ao povo judeu disperso na Diáspora (Dispersão) foi calcada na perseverança e resignação e na esperança de um dia ver, finalmente, a justiça triunfar sobre o ódio – um ódio que fora disseminado pela Europa, durante 18 séculos, através de ensinamentos cristãos baseados em calúnias e desprezo. Mas as raízes desse mal já eram tão profundas que o povo judeu, mais uma vez, teve que vivenciar as trágicas consequências do preconceito.
Quando o governo alemão se instalou na Polónia, em Outubro de 1939, uma de suas primeiras providências foi transferir e aprisionar, no exíguo espaço do antigo bairro judeu, os 400 mil judeus de Varsóvia. Em condições normais, esse bairro tinha a capacidade para abrigar apenas 60 mil pessoas. Um muro foi rapidamente levantado para isolar completamente o bairro, que tornou-se um "gueto" no sentido mais exacto e nefasto da palavra. Aos judeus de Varsóvia presos no gueto somaram-se rapidamente 100 mil outros, evacuados dos povoados vizinhos. Toda essa população vivia em condições sub-humanas. Em cada cómodo disponível viviam em média 13 pessoas, enquanto grande parte da população não tinha sequer um abrigo.
A resistência judaica começou a formar-se no início de 1940, mas apenas no dia 2 de Dezembro de 1942 foi organizado um grupo de combate, reunindo todas as tendências políticas possíveis.
No dia 9 de janeiro de 1943, Himmler, chefe supremo da Gestapo, chegou, de surpresa, a Varsóvia, indo até o gueto. Ali se decidiu a ordem de destruí-lo e exterminar todos os seus habitantes. Assim, no dia 18 de janeiro de 1943, vários batalhões da SS marcharam rumo ao gueto, mas, pela primeira vez, os alemães foram recebidos ao som de granadas e metralhadoras. Após sofrerem muitas baixas, as tropas da SS foram obrigadas a retirar.
Os líderes da sublevação, encabeçados por Anilevitch, então com 24 anos, fizeram um apelo ao mundo exterior. Palavras carregadas de emoção foram transmitidas por uma rádio clandestina: "Declaramos guerra à Alemanha, a declaração de guerra mais desesperada que já foi feita. Organizamos a defesa do gueto, não para que o gueto possa defender-se, mas para que o mundo veja a nossa luta desesperada como uma advertência e uma crítica".
Depois de uma trégua de três meses, em 19 de Abril de 1943, forças alemãs e colaboracionistas polacos, ucranianos e lituanos cercaram o gueto. Por duas vezes, os atacantes foram rechaçados, com inesperada força, pelas armas dos defensores do gueto. Após sofrer perdas consideráveis, os atacantes acabaram fugindo de forma desorganizada. Para os defensores do gueto, o desespero era a sua força e no telhado mais alto tremulava a bandeira azul e branca de Sião.
Diante de tamanha resistência, o comandante alemão Jürgen Stroop recebeu ordem pessoal de Hitler para usar de todos os meios a fim de destruir o gueto: artilharia, blindados, lança-chamas, gás asfixiante. Era uma luta corpo a corpo nas ruas, nas casas, sala por sala, sobre os telhados, nas caves, nos esgotos. Finalmente, no ataque final, a aviação alemã teve que intervir para acabar com os últimos focos de resistência.
Em 8 de Maio de 1943, Mordechai Anilevitch, a esposa e seus companheiros tombaram, armas em punho, após recusarem render-se, mesmo com a promessa de terem as vidas poupadas.
Em 16 de Maio, o general Stroop enviou um telegrama a Hitler: "O bairro judeu de Varsóvia já não existe". O general do "Herrenvolk" (Povo de Senhores, tão exaltado pelos nazis) estava orgulhoso de seu feito. Para festejar, mandou dinamitar a grande sinagoga de Varsóvia, "comemorando", assim, a fase final da exterminação daquela que havia sido uma das grandes comunidades judaicas da Europa.
Ao mesmo tempo, Schmuel Zigemboim, único judeu membro do Conselho polaco, exilado em Londres, suicidou-se para protestar contra aquilo que chamou de "conspiração do silêncio". Numa nota enviada à imprensa, dizia: "Ao assistir sem reacção alguma à matança de milhões de seres inocentes e indefesos, os países livres do mundo ocidental tornaram-se cúmplices dos assassinos".
Essa acusação era dirigida à resistência polaca, que ignorou os apelos feitos pelos moradores do gueto. Excepto alguns patriotas – que o Yad Vashem (Instituto em Memória do Holocausto, em Jerusalém) mais tarde homenagearia – os polacos, na sua grande maioria, preferiram deixar o "problema judeu" por conta dos alemães. Quando algumas centenas de sobreviventes do gueto puderam juntar-se à resistência, em sua maioria polaca, muitos foram assassinados de forma vil pelos fascistas polacos que colaboravam com os nazis. Mais tarde, quando eles mesmos pediram ajuda aos russos, estes tiveram a mesma atitude: fingiram não ouvir, permitindo aos alemães massacrar sem piedade 150 mil polacos.
Mas as acusações mais amargas foram feitas aos dirigentes do mundo livre. Todos podiam ter feito muito para impedir ou pelo menos retardar o genocídio mais monstruoso da História. Mas nada fizeram. Só viram a terrível realidade da barbárie nazi depois de descobertos os campos da morte, os fornos crematórios ainda fumegantes e os restos humanos empilhados.
Quando o monstro nazi foi abatido, o mundo, estarrecido, gritou: "Nunca mais!" As nações livres juraram ser, no futuro, vigilantes quanto a qualquer nova tentativa de crimes contra a humanidade. Mas, infelizmente, por várias vezes, esse juramento não foi cumprido e eles foram e são cometidos até os dias de hoje.

Extraído de www.morasha.com
publicado por MJ às 12:44
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Terça-feira, 10 de Abril de 2007

Shoah, de Claude Lanzmann (1985), 9h 30min


Trailer, 4m 7s

«É impossível contar. Ninguém pode representar o que se passou aqui. Impossível. Ninguém pode compreender isto. Eu mesmo hoje… não acredito que estou aqui. Não, não posso acreditar». Simon Srebnik regressou a Chelmno, na Polónia, o primeiro local onde os alemães aplicaram a «solução final». A partir destas imagens e palavras que abrem Shoah, o espectador é tomado por um horror trágico que não o abandonará ao longo das nove horas e meia que dura o filme. É um homem regressado do nada que se encontra perante a equipa de filmagem.
«Pela primeira vez vivemos [a dolorosa experiência] na nossa cabeça, no nosso coração, na carne. Torna-se nossa», escreve Simone de Beauvoir quando sai o filme em 1985. Obra singular, Shoah transporta o mundo dos vivos ao encontro dos seres que vivem na morte. Sobreviventes, carrascos, testemunhas activas ou não, todos são marcados por aquilo que continua um enigma. Porque é que os homens decretaram que uma categoria de humanos deveria desaparecer da face da terra? «Há momentos em que compreender se torna numa loucura», responde o realizador que prefere dizer e fazer dizer os factos: os meios de transporte dos deportados, a topografia dos campos, a disposição dos corpos, a organização do tempo.
Entre 1976 e 1981, trezentas e cinquenta horas de filme foram rodadas. Durante dez campanhas de filmagem, o escritor e cineasta Claude Lanzmann seguiu metodicamente os traços desta infâmia, analisando factos, identificando os locais e escutando as vítimas, os criminosos e as testemunhas. Sufocando a sua dor, o investigador coloca questões que incomodam os interlocutores, o próprio e os espectadores.
O visionamento deste filme é uma prova, uma experiência que, mesmo vivida indirectamente, deixa traços profundos. Em França, assim que saiu das salas, foi programado em 1987 pela TF1, na altura em que terminou o processo Barbie, em 1993 na France2 e, posteriormente, no canal Arte, no início de 1998. Shoah foi difundido em versões mais ou menos curtas nas televisões e cinemas de todo o mundo, provocando grandes debates, nomeadamente na Polónia.
Shoah é excepcional e radical na representação do horror sofrido pelos deportados na sua chegada aos campos de extermínio. Recusando qualquer imagem da época dos factos, o filme sucede como obra de referência a Nuit et Brouillard de Alain Resnais (1955), que misturava imagens de arquivo com os planos rodados pelo cineasta, acompanhados de um texto do poeta Jean Cayrol e de um música dramatizante.
A singularidade de Shoah continua intacta. Não se trata de um trabalho de jornalista ou historiador, mas de uma criação artística, de uma tragédia alucinatória, quer naquilo que transmite como na forma de o fazer. Claude Lanzmann criou uma obra de vida contra a obra da morte
Michel Doussot, jornalista
Télescope, n° 183, 31 Janeiro 1998
publicado por MJ às 22:54
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«A Esperança»

Carlos Miguel Fernandes, Varsóvia (Cemitério Judeu), Outubro de 2005

«Em Setembro de 2005 iniciei na Polónia, país que nunca havia visitado, a periódica viagem pela Europa Central. Em Varsóvia caminhei pela zona do gueto, hoje enterrado pela História e pela reconstrução da cidade, e entrei no cemitério judeu, invadido nesse dia por uma imensa excursão de jovens israelitas. O chão estava salpicado de pequenas bandeiras de Israel. Bandeiras estrangeiras em solo polaco! A visão incomodou-me um pouco na altura, mas nos meses seguintes compreendi melhor a situação e aceitei-a definitivamente. Na verdade, nos meses seguintes compreendi muita coisa. Andava há anos a chafurdar na Europa e na História, mas foi na Polónia que comecei a vislumbrar algo por detrás da poeira levantada pelo agitado século XX. E foi nesse dia, no cemitério, que recebi um impulso definitivo que me empurraria de vez para lá de um beco que parecia não ter saída. Junto ao que mais tarde descobri ser a vala comum das vítimas do gueto, juntara-se um dos muitos grupos em que se haviam dividido os jovens da excursão. Um adulto parecia explicar-lhes o significado do espaço. Quando me afastei já cantavam o HaTikva, o hino israelita, num sussurro dorido e envolvente. Deixei o cemitério com a melodia a ecoar nos ouvidos e a romper-me a alma com delicadeza. Soube nessa altura que encontrara o punctum da viagem. Três semanas depois regressei e fotografei o chão sagrado. A imagem viria a ser o alicerce central no qual se sustentou
MittelEur/opa, um trabalho que não teria passado de uma caricatura sem a viagem à Polónia.
Lembrei-me de tudo isto a propósito do HaTikva cantado pelos sobreviventes de Bergen-Belsen, que encontrei ontem no A Arte da Fuga e que me fez regressar finalmente à Europa, depois de um período de latência em que a cabeça teimou em ficar do outro lado do mundo. Regressei à Europa via Israel. Haverá outra forma de o fazer?
Há alguns anos comprei em Novi Sad o disco Na Kapijama tjovim, o, Jerusalime/At Thy Gates, o, Jerusalem, do grupo Shira Utfila, originário de Belgrado e guardião da tradição musical dos judeus sefarditas. O trabalho termina com o HaTikva cantado em hebreu, ladino e judeu-árabe. Dada a origem da banda e do disco, os títulos dos temas têm tradução em servo-croata, e Nada é a perturbante tradução de HaTikva, a Esperança. Nada! É a isso que muitos querem reduzir Israel e a esperança. A nada. A cinzas. »
Carlos Miguel Fernandes, 06 de Abril de 2007, no No Mundo
publicado por MJ às 16:12
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Segunda-feira, 9 de Abril de 2007

A lista de Irena

O texto que segue, publicada no jornal britânico The Independent, de 17 de Março findo, parece adequada para esta semana, e logo nestes tempos de agora, em que se cuida mais da morte (de crianças e não só) que da vida.

«É a versão feminina de Oskar Schindler. Vive num lar da terceira idade, na Polónia esta antiga enfermeira que, sem o aparelho industrial ou o poder financeiro daquele, salvou duas vezes mais judeus dos horrores do Holocausto. Cerca de 2500 crianças foram libertas do gueto de Varsóvia e de uma morte quase certa nos campos de concentração, tudo graças a Irena Sendlerowa. Hoje com 97 anos, Irena tirava de lá bébés e crianças dentro de sacos, através de esgotos e até escondidos debaixo de macas em ambulâncias. Eram então, com identidades falsas, entregues a famílias adoptivas não-judias, que as ensinavam a falar polaco e a balbuciar orações cristãs para poderem enganar os oficiais pesquisadores da Gestapo.

Indigitada para o prémio Nobel da Paz, Irena diz que não foi uma heroína, mas as centenas de crianças judias que tiveram a sorte de crescer graças a ela não concordam. «Para mim, as suas acções foram de puro heroísmo. Sei que ela não gosta e diz modestamente que se limitava a fazer o que qualquer ser humano teria feito, mas não há outra palavra para isso» diz Elzbieta Ficowska, uma das crianças salvas. Com a guerra a alastrar pela Europa, Elzbieta e quase 400 000 outros judeus polacos foram arrebanhados para uma área sensivelmente do tamanho do Central Park de New York. Estava-se em Novembro de 1940 e assim nascia o Gueto de Varsóvia. Os pais passaram os meses seguintes vendo os filhos brincando por detrás de muros com mais de 3 metros de altura e com vidros partidos no seu topo, enquanto eles próprios tentavam sobreviver com rações mínimas e proteger as famílias dos surtos de tifóide e tuberculose que grassavam naqueles espaços sobrepovoados.
A mãe de Elzbieta costumava transportá-la numa mochila. Mas depressa os alemães deram por este disfarce e certo dia um soldado espetou-a com a baioneta. O bébé teve a sorte de escapar nessa altura, mas o episódio determinou a mãe a medidas radicais. Assim, quando Elzbieta tinha só 5 meses, escondeu-a numa caixa de ferramentas, meteu-o numa carreta de tijolos e esgueirou-a para a liberdade.
Separar crianças dos pais era de cortar o coração. Irena lembra numa entrevista divulgada no site da Associação das Crianças do Holocausto na Polónia: «Vimos cenas infernais. O pai a concordar e a mãe não. A avó a embalar ternamente o bébé, chorando amargamente, e negando-se a abandonar o neto fosse a que preço fosse».Alturas houve em que o impossível era realmente impossível. «Por vezes tínhamos que deixar estas infelizes famílias sem lhes levar os filhos» diz Irena. «Ia-se no dia seguinte ver o que acontecera à casa e já toda a gente fora levada no comboio para os campos da morte».
Nem assim o pesadelo nazi acabava para as crianças com a sorte de ser salvas. Embora supostamente em segurança, estavam ainda sujeitas às rusgas ocasionais da Gestapo. «Sei de casos em que a única hipótese de sobrevivência era o peitoril exterior da janela, ou atrás de uma cortina, mantendo ali a criança o tempo necessário, com as mãos já dormentes a segurá-la até os alemães partirem», conta Irena. Às vezes o risco era tanto que tinha de se arranjar uma segunda casa de acolhimento. Chorando, um miúdo perguntou certa vez a Irena: «Diz-me quantas mães consegues arranjar, porque esta é já a terceira para onde vou».A pena de morte para quem ajudasse judeus na Polónia ocupada pelos nazis não bastou para deter a enfermeira, cuja profissão lhe permitia a importantíssima possibilidade de entrar no gueto. Católica, Irena (cujo nome clandestino era Jolanta) decidiu mostrar a sua solidariedade com o povo judeu usando a faixa obrigatória com a estrela de David quando entrava no gueto. «Fui educada acreditando que uma pessoa deve ser ajudada se está a afogar-se, independentemente da religião ou da nacionalidade». «Não somos heróis por andar a salvar crianças», diz ela. «De facto, a verdade é o contrário – e continuo a ter escrúpulos do pouco que fiz». Em pleno turbilhão da guerra, Irena teve presença de espírito para guardar registos minuciosos dos que salvava, para mais tarde ser possível reuni-los à sua família. Mas quando a guerra acabou muitos dos parentes haviam sido mortos no Holocausto, a maior parte deles no campo da morte de Treblinka, onde cerca de 300 000 judeus foram assassinados só no Verão de 1942. Irena, porém, nunca desesperou. Cuidadosamente, copiava os detalhes relativos a cada criança em folhas de papel para cigarro – e, à cautela, em duplicado. Estas preciosas informações eram então seladas em duas garrafas de vidro e enterradas no jardim de uma colega.
Embora trabalhando com a protecção de Zegota (associação secreta apoiada pelo governo polaco no exílio) e com inúmeros colaboradores, Irena era a única que cuidava, com grande risco, de manter e proteger estes arquivos. O desastre esteve iminente em Outubro de 1943 quando um pelotão nazi chegou certa madrugada, revirou toda a casa e levou Irena para o quartel da Gestapo. Foi aí torturada, na tentativa de lhe sacarem informações. Partiram-lhe ossos das pernas e dos pés, mas a sua boca não se abriu.«Ainda tenho marcas no corpo do que esses super-homens alemães me fizeram», disse ela. «Fui condenada à morte… mas além disso, havia também a ansiedade de, morrendo, desaparecer o único rasto dessas crianças». Só que, sem ela saber, os seus colegas de Zegota trabalhavam por detrás da cortina e, com um punhado de dólares, conseguiram corromper um oficial alemão para a deixar fugir. «É indescritível o que se sente a caminho da própria execução para só no derradeiro momento ver que se foi resgatado», recorda ela. No dia seguinte, as autoridades alemãs, ainda ignorantes da sua fuga, afixavam cartazes por toda Varsóvia anunciando que ela fora fuzilada. Depois disto, Irena passou a levar a uma vida clandestina, com identidades falsas, escondida das vistas oficiais e sem poder voltar a casa. Quando a mãe lhe morreu, pouco depois de ela escapar ao pelotão de fuzilamento, apareceram agentes da Gestapo no funeral interrogando os parentes sobre a filha da morta.
Irena foi um das primeiras a ser recrutada por Zagota (Comissão Konrad Zagota, de seu nome completo). A organização fora estabelecida em 1942 – quando ficou clara a determinação dos alemães a exterminar toda uma raça – para congregar e reforçar os esforços dispersos de ajuda aos judeus. A iniciativa para a sua criação partiu de outras duas polacas – Zofia Kossak, escritora conservadora católica, e Wanda Krahelska-Filipowicz, activista socialista. Mas este par entrou em outras redes já extensas, como a de enfermeiros e assistentes sociais de Irena, que aparecera quase organicamente face à limpeza étnica dos nazis. Konrad Zegota era uma personagem inteiramente fictícia, mas o nome «acabou por cobrir todas as actividades de ajuda aos judeus», segundo Irene Tomaszewski e Tecia Werbowski, autoras de um livro sobre esta organização.
Ainda assim, muitos residentes em Varsóvia nunca haviam ouvido falar deste grupo até quando, há uma década, se descerrou perto do antigo gueto uma placa de mármore em sua honra. O regime comunista polaco do após-guerra havia estimulado o anti-semitismo e a história destas pessoas comuns mas extraordinariamente corajosas ficara quase esquecida. A reparação oficial aconteceu só agora, com a actual família governamental a reconhecer os méritos de Irena Sendlerowa, e ironicamente usando uma expressão que, como ela sempre tinha dito, «a irritava grandemente»… O parlamento declarou-a «heroína nacional» e apoiou a sua indigitação para o prémio Nobel da Paz. Demasiado fraca para assistir à cerimónia, Irena enviou uma carta muito simples. «Cada crianças salva com a minha ajuda e a de todos os admiráveis mensageiros clandestinos que já não vivem justifica a minha existência na terra e não qualquer título de glória», escreveu ela. Já mais de meio século passou desde o inferno do Holocausto, mas o seu espectro ainda paira sobre o mundo e não nos deixa esquecer a tragédia que aquilo foi».
Tradução: Álvaro Monjardino (2007-04-05), in A União
publicado por MJ às 14:35
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