Auto-retrato de Félix Nussbaum (1942 ?), Museu Nussbaum, Osnabrük. O Autor foi morto na câmara de gás em Auschwitz (3.8.1944)
NÃO HÁ HISTÓRIA MAIS DIFÍCIL… - Hannah Arendt disse que “não há história mais difícil de contar em toda a história da Humanidade” do que a do “Holocausto”. E porquê? “Em primeiro lugar pelo sofrimento intenso de um povo, estilhaçando com fragor insuportável os limites do entendimento humano” – diz-nos Esther Mucznik. “Até hoje, o genocício nazi, programado, sistemático e colectivo permanece para a civilização humana como a referência ética do mal absoluto”. Mas como foi tudo isto possível, quando ninguém esperava? E como foi possível que acontecesse a partir de um país de arte e de cultura? O certo é que tudo aconteceu de um modo sistemático e terrível. Daí que a obra agora saída corresponda à procura de uma consciência moral e cívica que possa contrapor o respeito ao ressentimento e a liberdade à servidão. Nesse sentido, o projecto do Conselho da Europa visa “suscitar o interesse dos jovens pela história recente do nosso continente e ajudá-los a estabelecer ligações entre as razões históricas e os desafios com os quais estão confrontados na Europa actual”. Está em causa a ajuda à criação de uma identificação europeia, o desenvolvimento da análise crítica, a sensibilização para a importância da diferença e do outro e o encorajamento aos professores para lançarem as bases de “um ensino europeu da história”. A dimensão europeia na Educação passa, assim, por um melhor conhecimento da realidade, de tragédia, de diálogo e de conflito, que nos antecedeu, com todas as suas implicações. O estudo da “Shoah” (expressão que significa “catástrofe” e que é utilizada para designar o genocídio perpetrado pelos nazis e seus aliados contra os judeus) e do “Holocausto” (sacrifício) deve, no fundo, permitir-nos ir além das apreciações simplistas ou do mero culto do ressentimento. É essencial entender as fontes da banalização do mal, para que, no futuro, possamos prevenir a sua ocorrência. De facto, entre o excesso de memória e a sua ausência, temos de encontrar um equilíbrio que permita não esquecer, sem fazer da lembrança um motivo de vingança.
APRENDER COM OS FACTOS – Ao longo de 50 fichas elaboradas criteriosamente, podemos obter uma informação bastante rigorosa e circunstanciada sobre o judaísmo, sobre a doutrina nazi, sobre os campos de concentração, sobre as perseguições (também dos Rom/Ciganos e dos homossexuais), sobre a decisão de extermínio, sobre as câmaras de gás e a cremação das vítimas, sobre os campos de extermínio (Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Lublin-Maidanek, Sobibor, Treblinka); sobre os “sonderkommandos” (encarregados das operações nos campos de morte – desde a preparação para as câmaras de gás até aos fornos crematórios); sobre a situação nos diversos países afectados; sobre as reacções dos judeus; sobre “os justos” (que ajudaram o povo judaico durante a Shoah); sobre as opções dos Aliados; sobre o número de mortos (cerca de 5 milhões de judeus); sobre o regresso dos sobreviventes; sobre o silêncio; sobre o revisionismo e o negacionismo; sobre a filmografia do tema e sobre os sítios na Internet. Trata-se de um conjunto de informações sobre o inominável e o injustificável. Como entender tanta cegueira e tanta desumanidade? E como interpretar os resultados da discricionariedade pura? E fica a afirmação de Primo Levi que “menciona um conjunto de ‘pequenas razões’, pequenas partículas de humanidade que se juntaram e que conduziram à sua sobrevivência – por outras palavras, uma sucessão de pequenos pedaços de sorte, de acontecimentos fortuitos”. Por outro lado, fica a realidade insofismável que hoje não pode sofrer contestação: “apesar do reduzido número de sobreviventes, foram registados muitos testemunhos, o que nos leva a considerar por que razão todos contaram o mesmo e por que razão não existem quaisquer provas do contrário”.
A DIFICULDADE DA MENSAGEM – À medida que o tempo passa, atenua-se, contudo, o impacto do drama real e prevalece a ideia mítica ora dos actos heróicos de resistência ora do carácter difuso da culpa e da responsabilidade. No entanto, mais do que os mitos, o que importa é fixar a actualidade do tema e o risco da repetição de acontecimentos tão terríveis e dramáticos. Daí que nas orientações dadas aos professores, no âmbito deste projecto educativo, haja muitas vezes dúvidas e hesitações sobre a eficácia menor ou maior da utilização de determinado exemplo ou instrumento. De facto, temos de contar com a “dificuldade da mensagem” e com o facto dela ter tudo a ver com a construção de uma sociedade mais humana, onde os direitos, as liberdades, as garantias e a responsabilidade pessoal têm de ter um lugar cimeiro. E se nos lembrarmos do exemplo de Janusz Korczak no gueto de Varsóvia vemos que o melhor método educativo é o da prática e do exemplo: “desenvolveu um sistema de organização democrática dos orfanatos – as crianças eram tratadas como indivíduos com plenos direitos e tomavam parte na administração da comunidade”.
DEVER DE MEMÓRIA? - Tzvetan Todorov afirmou que «les enjeux de la mémoire sont trop grands pour être laissés à l’enthousiasme ou à la colère» (Les Abus de la Mémoire, Arléa, 1995, p. 14). Esta é a preocupação fundamental que temos de preservar, a fim de que não haja interpretações unilaterais e abusivas sobre a memória. O dever de memória obriga ao rigor crítico e a prestar justiça – o que também leva à necessidade de compreender as circunstâncias da história para além da vitimação e da ameaça. O entusiasmo e a cólera levam à incompreensão de que a memória se refere à humanidade, e de que, nesse sentido, tem de apelar permanentemente à capacidade de compreender e de nos pormos no lugar do outro.
retirado da web do Centro Nacional de Cultura
O historiador israelita Saul Friedländer – vencedor do Prémio da Paz de 2007 da Associação dos Editores da Alemanha – conversou com a revista alemã "Der Spiegel" sobre a importância dos relatos de vítimas na pesquisa sobre o Holocausto e o fracasso dos esforços na Alemanha para colocar um ponto final na questão.
Spiegel - Professor Friedländer, em contraste com outros relatos da história do holocausto, no seu livro “"Nazi Germany and the Jews, the Years of Extermination" (“A Alemanha nazi e os judeus – os anos de extermínio”, inédito em português), dá-nos uma ampla oportunidade de ouvir as vítimas através de diários e cartas. Por que não limitou o foco para a história dos perpetradores?
Saul Friedländer: Porque isso não é suficiente. Basicamente, nós ainda precisamos de um livro que vá além da análise da política alemã e inclua o ambiente – por outras palavras, as igrejas, as elites, a população geral na Alemanha e em outros países – e incorpore as vozes das vítimas, daqueles que foram assassinados.
Spiegel - Estava interessado no efeito educacional aqui, uma vez que o horror se torna mais vívido dessa forma?
Friedländer: Não, muitos aspectos só se tornaram claros a partir de uma análise das fontes das vítimas, não de documentos oficiais. Por exemplo, o facto de que os judeus na Alemanha e Europa Ocidental não sabiam o que estava a acontecer – e na Europa Oriental eles não queriam acreditar no que viam. Tome como exemplo meus pais – após a sua deportação da França em 1942, um amigo escreveu para a minha avó, que vivia em Estocolmo, para dizer que meus pais tinham sido enviados para a Alemanha ou para uma reserva judaica na Polónia. Ele não tinha ideia de que eles tinham sido assassinados.
Spiegel - Teria sido diferente se as vítimas soubessem o que estava acontecendo?
Friedländer: Faria uma grande diferença. Uma coisa era os nazis assassinarem milhões de pessoas que não sabiam o que iria acontecer com elas ou matarem pessoas que já esperavam o pior.
Spiegel - Isso explica porque o processo de extermínio foi tão fácil?
Friedländer: Sim.
Spiegel - A posição oposta era dada pelo historiador do holocausto Raul Hilberg, recentemente falecido, que dizia que “a melhor forma de entender a realidade da situação é reconstruir os eventos da perspectiva dos perpetradores.”
Friedländer: Tenho muito respeito por Hilberg. Ele foi o especialista clássico do mecanismo do extermínio. Mas ele só trabalhou com documentos deixados pelos perpetradores e achava que as vítimas iam para morte como cordeiros para o abate. Se ler entre linhas, pode até sentir a raiva com que ele escreve sobre a falta de resistência dos judeus. Mas eles simplesmente não sabiam o que estava acontecendo.
Spiegel - Há outras coisas novas que podemos aprender dos relatos das vítimas?
Friedländer: Somente esses relatos podem confirmar o comportamento dos assassinos. Elsa Binder, de Stanislavóv, na Galícia, por exemplo, escreveu em seu diário em 1941 sobre como os "Einsatzgruppen" (esquadrões da morte) assassinaram suas amigas Tâmara e Ester, que era conhecida como Esterka. “Espero que a morte tenha sido boa com ela e a tenha levado rapidamente. E que ela não tenha tido de sofrer como ... Esterka que, como vimos, foi estrangulada.” Daí vemos que os Einsatzgruppen não eram constituídos só por homens que apontavam espingardas contra as multidões aparentemente anónimas de pessoas. O estrangulamento de uma jovem revela, na verdade, o sadismo dos perpetradores, sobre o qual sabemos ainda tão pouco.
Spiegel - Como foi recuperado o diário?
Friedländer: Foi encontrado num canal próximo de uma estrada que leva ao cemitério em Stanislavóv. As circunstâncias que envolvem a morte de Elsa são desconhecidas. E podemos deduzir algo mais da perspectiva das vítimas: além dos conselhos judaicos e das comunidades religiosas judaicas, também havia famílias, círculos de amigos e indivíduos. O sucesso das suas estratégias para evitar a deportação é – de um ponto de vista estatístico – talvez insignificante, mas é um pequeno capítulo na história geral do período. Por exemplo, só estou aqui hoje porque os meus pais me esconderam numa escola de um convento católico.
Spiegel - Por outras palavras, a sua ênfase na perspectiva das vítimas tem origem na sua própria experiência?
Friedländer: Claro. Na verdade, esse não deveria ser o caso com historiadores e o ex-director do Instituto de História Contemporânea de Munique Martin Broszat até disse em 1987 que os judeus eram incapazes de escrever uma história histórica racional do Terceiro Reich porque eles eram tendenciosos – como se um ex-membro da Juventude Hitlerista ou um membro de partido como Broszat pudesse conduzir pesquisa sem nenhuma bagagem biográfica. Isso aborreceu-me bastante na época, mas deparo novamente com essa atitude quando o assunto é discutido com colegas alemães.
Spiegel - Estuda o Holocausto há décadas. Espera que mais descobertas surjam dessa pesquisa?
Friedländer: Provavelmente não haverá grandes mudanças no quadro geral.
Spiegel - Mas não existem diferenças consideráveis de opinião entre historiadores sobre a questão da razão o Holocausto ter acontecido?
Friedländer: Está referindo-se ao que eu chamo de “novo funcionalismo”, por outras palavras, a posição tomada por meus colegas Ulrich Herbert, Götz Aly e Christian Gerlach. Eles acreditam que, por razões logísticas ou populistas, os alemães tenderam a buscar objetivos materialistas e originalmente não pretendiam assassinar os judeus. Esses estudiosos afirmam, por exemplo, que a população da Rússia foi assassinada, incluindo os judeus, porque isso era necessário para alimentar a Wehrmacht (as forças armadas da Alemanha), mas eles dizem que isso não era, de forma alguma, o principal objectivo.
Spiegel - Que objecções tem a esses argumentos?
Friedländer: Para mim, a ideologia do Terceiro Reich e de Hitler é da maior importância. No primeiro artigo conhecido escrito por Adolf Hitler que trata sobre a questão política, ele alertou sobre o perigo que os judeus representavam para o povo alemão. Isso foi em 1919. E seu testamento político feito no bunker em 1945 contém a mensagem de que os alemães deveriam continuar a luta contra a praga mundial do judaísmo. Podemos, portanto, observar a continuidade do anti-semitismo fanático.
Spiegel - Qual a razão por que os nazis não mataram os judeus alemães nos anos 30?
Friedländer: Tenho certeza de que Hitler não perseguia um plano de assassinar os judeus desde o início. A princípio, o objectivo era isolá-los da sociedade, privá-los das suas formas de sobrevivência económica e forçá-los a deixar a Alemanha.
Spiegel - E por que aconteceu o Holocausto?
Friedländer: Durante a guerra, a Wehrmacht ocupou regiões onde viviam milhões de judeus. O plano era deportá-los, da mesma forma que eles começaram a fazer na Alemanha, de áreas sob controle alemão e enviá-los para uma reserva judaica. Num primeiro momento, essa reserva seria em Lublin, depois em Madagáscar, e finalmente, após derrotar Stalin, no norte da Rússia.
Spiegel - Mas não foi isso que aconteceu.
Friedländer: Sim, a partir de Outubro de 1941, podemos observar uma transição. Hitler fazia declarações raivosas, aos berros, sobre os judeus quase todos os dias. A ofensiva na frente leste estava afundando na lama e, em 5 de Dezembro, o Exército Vermelho lançou a sua contra-ofensiva. Stalin não tinha sido derrotado – continuava a lutar. E alguns dias depois, os Estados Unidos estavam em guerra contra os aliados de Hitler, os japoneses. E como Hitler sabia que o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, estava a tentar convencer o povo norte-americano a lutar contra a Alemanha, e por razões psicológicas ele queria dar uma surra nele. Daí, Hitler declarou guerra contra os Estados Unidos, embora aquele não tenha sido o plano original. Como resultado, Hitler estava lutando numa guerra total em duas frentes, da mesma forma que ele lutou na Primeira Guerra Mundial.
Spiegel - E o destino dos judeus europeus foi selado?
Friedländer: Em 1935, Hitler disse que, se outra guerra ocorresse em em duas frentes, ele estaria preparado para tomar medidas drásticas contra os judeus. Essa foi a lição que Hitler aprendeu da Primeira Guerra Mundial. O país não se permitiria a outra punhalada nas costas do inimigo interno, os judeus, que supostamente haviam traído a Alemanha em 1917/18. Em contraste com os eslavos, que os nazis viam como "Untermenschen" (sub-homens) passivos, Hitler temia os judeus como um inimigo activo. Consequentemente, não era suficiente matar os judeus –- ele queria destruir tudo que era judaico no mundo. Eu acredito que a decisão para fazer isso tenha sido tomada em Dezembro de 1941.
Spiegel - Como você explica o fato de que, imediatamente após o ataque na União Soviética em Junho de 1941, os Einsatzgruppen tenham assassinado primeiro homens judeus, mas depois também atiraram contra centenas de milhares de mulheres e crianças? A determinação absoluta para aniquilar os judeus estava claramente presente numa data anterior.
Friedländer: Esse é um caso de radicalização cumulativa, como meu colega Hans Mommsen lhe chamou noutros contextos. Isso resulta da noção de uma guerra total, como a que Hitler lutava no leste europeu. Ela possui a sua própria dinâmica e a radicalização emerge dela mesma.
Spiegel - E isso levou ao assassinato de mulheres e crianças?
Friedländer: No lado alemão, existia a ideia mítica disseminada de que os judeus ajudariam o Exército Vermelho. E havia o início, embora muito modesto, de uma guerra subversiva por parte dos soviéticos. Dessa forma, os alemães viam as mulheres como uma ameaça potencial, por exemplo, como mensageiras. E eles disparavam contra as crianças porque eles não estavam preparados para alimentar todos os órfãos. Mas essa ainda não era a decisão para destruir todos os judeus da Europa. A guerra subversiva também era direccionada contra os eslavos. Nas aldeias, os alemães matavam todos os habitantes quando um resistente era descoberto ou havia suspeitas de actividade de resistência.
Spiegel - Alguns colegas seus vêem Hitler como um ditador cercado por cúmplices que o pressionavam pelo Holocausto. Qual a sua avaliação do papel de Hitler?
Friedländer: Sem Hitler não teria existido o Holocausto. Mas é claro que Hitler nunca poderia ter cometido o crime sozinho. Era a população, era a elite, cerca de 200 mil perpetradores somente na Alemanha – existia uma disposição para seguir em frente com isso, também por razões muito práticas, porque as pessoas esperavam ganhar uma vantagem material.
Spiegel - Nesse sentido, você concorda com seu colega Götz Aly quando ele diz que Hitler assassinou os judeus para que puder distribuir todas as suas posses pelos alemães?
Friedländer: Aly exagera. Hitler definitivamente utilizou a propriedade e os pertences daqueles que foram assassinados para ajudar a manter as pessoas caladas, mas esse não era o principal objetivo.
Spiegel - Escreveu recentemente que “evidentemente todos os impulsos homicidas e as ilusões ideológicas estão adormecidos na natureza da humanidade.” Vê uma ameaça de que isso poderia acontecer novamente?
Friedländer: Há alguns anos, dei uma palestra na Universidade de Notre Dame, em Indiana. E uma pessoa do auditório fez uma pergunta que ainda me incomoda: “se algo tão extremo como o holocausto foi possível, não temos de revisar a nossa percepção da natureza da humanidade?” Não consegui responder a essa pergunta. Não há dúvida de que um partido político extremista com uma ideologia violenta pode, dadas as circunstâncias correctas, cometer actos horríveis, como vimos com alguma extensão no Ruanda e no Camboja. Mas quase não consigo imaginar que um movimento comparável ao nazismo possa ser bem-sucedido novamente num país moderno. Hoje, as forças de neutralização que falharam no passado são muito fortes para permitir que isso aconteça.
Spiegel - Tem acompanhado de perto os desenvolvimentos políticos na Alemanha ao longo dos anos. Como será estar no mesmo local onde o vencedor do Prémio da Paz Martin Walser esteve em 1998 e se queixou da “exibição sem fim da nossa vergonha” nos media?
Friedländer: O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung especulou recentemente que eu responderia Walser mas não pretendo fazer isso porque eu honestamente não me importo com o que Martin Walser pensa.
Spiegel - Walser representa muitas pessoas que dizem que é hora de seguir em frente e colocar um ponto final no debate sobre o Holocausto.
Friedländer: Eu lembro-me vagamente do debate sobre dar um tempo na questão, no final dos anos 1950, e de forma muito clara do debate em 1985, que mais uma vez se concentrou em dar um ponto final no assunto. A cada 20 anos, parece haver uma onda de sentimento, por outras palavras, outra geração cresce e pede que a questão seja deixada para trás. Mas aí ocorre justamente o oposto. O debate em meados dos anos 1980 levou à "Historikerstreit" (uma controvérsia intelectual e política na Alemanha Ocidental sobre como o Holocausto deveria ser interpretado). E hoje quando as pessoas na Alemanha falam sobre o lançamento sistemático de bombas nas cidades e os refugiados e as pessoas desalojadas, o Holocausto parece desaparecer. Mas na verdade elas estão abordando-o de outro ângulo. O que eles estão tratando aqui é a resposta dos Aliados para o Holocausto, por outras palavras, os alemães também foram vítimas. Dresden é comparada com Auschwitz e não com outra coisa.
Spiegel - Os alemães não conseguem tirar o Holocausto do seu sistema?
Friedländer: É o que parece para mim. Mas não é só com os alemães. Veja o sucesso espectacular de um autor completamente desconhecido como Jonathan Littell em França com sua novela "Les Bienveillantes" (“Os benevolentes”) sobre um oficial fictício da SS que é responsável por organizar a “solução final”. Existe algo sobre a natureza extrema do Holocausto que hoje está firmemente ancorada na percepção ocidental do mundo – e que é reflectida nesse romance. Não consigo explicar isso exactamente, mas uma coisa é certa – a questão do Holocausto não vai desaparecer.
Spiegel - O actual debate sobre “vítimas” alemãs deixa-o preocupado?
Friedländer: Não. Quando viajei para Bona no início dos anos 60 para trabalhar nos arquivos, tinha esses horríveis ataques de pânico. Hoje a sensação que tenho na Alemanha é a mesma que tenho em qualquer outro país. Tenho um neto aqui e minha filha é casada com um alemão e vive em Berlim.
Spiegel - Então aparentemente não está muito preocupado com o debate sobre a apresentadora de TV que elogiou as políticas familiares dos nazis?
Friedländer: Li sobre isso. A senhora Herman aparentemente não sabe sobre o que está falando.
Spiegel - E o cardeal Joachim Meisner?
Friedländer: Eu também li sobre o cardeal e acredito que ele é limitado. Provavelmente leva essas coisas mais a sério do que eu porque elas acontecem no seu país. Eu entendo isso muito bem. Mas estou mais preocupado com a política dos Estados Unidos.
Spiegel - No próximo ano, será lançado um filme sobre a tentativa de assassinato de Adolf Hitler por Claus Schenk Graf von Stauffenberg em 20 de Julho de 1944, com Tom Cruise interpretando o papel principal. O vencedor do Oscar Florian Henckel von Donnersmarck diz que espera que essa grande produção possa fazer mais “para melhorar a imagem da Alemanha do que 10 Campeonatos do Mundo” teriam feito. Acredita nisso?
Friedländer: Quase ninguém nos Estados Unidos ouviu falar de Stauffenberg – alguns dos meus alunos em Los Angeles nem sabem quem foi Lenine. É razoável supor que um filme com uma estrela de Hollywood poderia dar a impressão de que Stauffenberg era uma “boa pessoa”. Mas a ampla maioria dos norte-americanos não tem ideia da história da Alemanha e o filme não vai mudar isso.
O historiador israelita Saul Friedländer revisitou a história da destruição da sua própria família pelos nazis e recordou, ao receber o Prémio da Paz dos Livreiros Alemães, que os gritos das vítimas do Holocausto continuam a ecoar nas consciências humanas.
O discurso foi pronunciado em alemão, a língua materna de Friedländer, num tom firme e sereno apesar da emoção e comoveu o auditório. «Há sessenta anos que escutaram estas vozes e outras semelhantes», afirmou o historiador depois de ler um trecho da última carta do seu pai, escrita no comboio que o conduziu para o campo de Auschwitz.
«No entanto, continuam a tocar-nos e a comover com uma extraordinária força e imediatez que supera as fronteiras da comunidade judaica e que abalaram gerações inteiras da sociedade ocidental», continuou.
Friedländer recebeu na célebre Paulskirche o Prémio da Paz pelos seus trabalhos sobre o Holocausto nos quais – como assinalou o filósofo Wolfgang Frühwald ao apresentar Friedländer – logrou devolver às vítimas do Holocausto um lugar na memória histórica, para além dos seus nomes.
Frühwald, no discurso que antecedeu Friedländer, recordou que os nazis não só quiseram exterminar fisicamente os judeus mas também apagar a sua memória, algo que Friedländer combate na sua obra, dando voz às vítimas.
O galardoado admitiu que chegava à Paulskirche com vários sentimentos, sabendo que o Prémio era atribuído em grande parte pela temática do seu trabalho, o que era algo muito pessoal como deixou patente no discurso onde mencionou os documentos a partir dos quais pode reconstruir o caminho da a morte percorrido pelos seus pais.
Jan e Elli Friedländer fugiram de Praga em 1939 com o seu filho Pavel que posteriormente mudou o seu nome para Saul, quando tinha 6 anos e se mudaram para França. Em 1942 a família Friedländer foi para a Suiça fugindo dos alemães que tinham ocupado a França e perseguiam os judeus, apoiados pelo regime de Vichy. Pavel ficou ao cuidado de uma vizinha que o escondeu num internato católico onde sobreviveu sob a identidade de Paul-Henri Ferland.
Friedländer, no seu discurso, leu a transcrição das declarações do seu pai à polícia quando foi detido e fragmentos de cartas de diversos familiares, como a sua tia Marta, que permaneceu em Praga onde foi assassinada pelos nazis.
Por fim, citou a última missiva do seu pai, escrita no comboio e atirada pela janela para ser recolhida por uns mensageiros. Estava dirigida à mulher que ficou a tomar conta do seu filho:
«Pela última vez, receba o nosso agradecimento infinito e os nossos melhores desejos para si e sua família. Não abandone o menino e que Deus a recompense» dizia a carta que ia acompanhado de 6000 francos e um álbum de selos.
Friedländer considera que este tipo de cartas continua a ser a nossa consciência porque, por um lado, afecta-nos o facto de saber que as vítimas não tinham nenhuma ideia do destino que as esperava. Por outro, documentam um facto, o Holocausto, que segundo Friedländer continua a ser a nossa prova de fé na solidariedade humana.
No comboio que levou para Auschwitz os seus pais viajavam cerca de 1000 judeus, entre eles 200 crianças. Nenhum sobreviveu e muitos deles foram levados directamente para as câmaras de gás.
O pai de Friedländer, segundo os documentos encontrados pelo filho, foi assassinado pelos nazis em 1942. O rasto da sua mãe perde-se em 1944.
Posando no interior do museu de Dachau. Os painéis que explicam o Holocausto servem de cenário para afirmar o orgulho nazi.
No museu de Dachau, sorridentes diante do poster "Unsere Letzte Hoffung. Hitler" (a nossa derradeira esperança: Hitler). Reparem no motivo da t-shirt da esquerda.
O grupo de naziskins, durante uma viagem à Austria, na cidade natal de Hitler.Com o agradecimento à Via Occidentalis Editora publicamos o prefácio incluído na obra Ensinar o Holocausto no Século XXI, de Jean-Michel Lecomte, livro direccionado à compreensão do fenómeno do anti-semitismo que recentemente ganhou uma sinistra actualidade entre nós.
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Prefácio à edição portuguesa por
Esther Mucznik
investigadora em assuntos judaicos
Em boa hora, decidiu a Via Occidentalis publicar a tradução do livro Ensinar o Holocausto no Século XXI, editado pelo Conselho da Europa.
Trata-se, como é referido na apresentação do mesmo, de uma obra com uma preocupação essencialmente pedagógica com vista a fornecer um material de apoio – simultaneamente conciso, rigoroso e de fácil consulta – a professores e alunos.
Ensinar o Holocausto não é um desafio fácil. Portugal não foi ocupado por Hitler durante a IIª Grande Guerra, nem sofreu as consequências do Holocausto no seu solo. Mas esta feliz circunstância histórica leva a que, praticamente, apenas a população judaica em Portugal tenha laços afectivos, memórias concretas, uma relação directa com as vítimas do genocídio nazi. Com efeito, quantos jovens em Portugal poderão dizer “o meu avô contou-me...”? Obviamente bem poucos.
Talvez por isso o Holocausto nunca foi objecto de debate público em Portugal como o foi, embora tardiamente, nos países ocupados pelo nazismo. Assim para a maioria esmagadora dos alunos e professores portugueses de hoje, o Holocausto é um acontecimento de que ouviram falar na televisão, através de alguns filmes, de alguns livros ou de alguns textos inseridos em manuais escolares – apesar de há uns anos para cá o currículo escolar contemplar mais detalhadamente o estudo do nazismo. Mas para os alunos – e eu tive a oportunidade de o constatar pessoalmente várias vezes – o Holocausto é um acontecimento abstracto, visto frequentemente quase como uma ficção.
O facto de já se terem passado mais 60 anos, torna também mais difícil o ensino do Holocausto, não só pela capacidade de atenção e interesse dos alunos, como da própria motivação de professores e autores de manuais. Sabemos como a nossa sociedade – e não só a portuguesa – está virada para a vertigem da actualidade e para o efémero: o que é hoje acontecimento deixa de o ser amanhã. E neste contexto, sessenta anos é uma eternidade...
Mas não são estas as únicas dificuldades do ensino do Holocausto, nem talvez as principais. “Não há história mais difícil de contar em toda a história da Humanidade”, afirmou Hannah Arendt. Porquê? Em primeiro lugar pelo sofrimento intenso de um povo, estilhaçando com fragor insuportável os limites do entendimento humano. Até hoje, o genocídio nazi, programado, sistemático e colectivo permanece para a civilização humana como a referência ética do mal absoluto.
Mas também porque é uma história que põe radicalmente em causa os valores em que fomos formados, as nossas certezas mais profundas: que através da cultura e da educação o homem se vai aperfeiçoando; que é tanto mais moral quanto mais instruído; que a ciência é uma escola de progresso, racionalidade e aperfeiçoamento. O extermínio nazi deitou por terra essa perspectiva: ocorreu num dos países mais industrializados, povoado por uma das nações mais cultas e instruídas do mundo. “Esperávamos o pior, mas não o impossível”, afirma uma sobrevivente. Depois do Holocausto ficámos a saber que o impossível se tornou uma possibilidade em aberto.
Não é, pois, fácil ensinar o Holocausto e sobretudo educar contra o Holocausto. Mas é um assunto que não pode ser evitado porque tem a ver com os próprios fundamentos da nossa civilização. Auschwitz tornou-se, pela negativa, património da humanidade.
Na história negra deste período há, no entanto, alguns raios de luz representados por homens e mulheres que contra tudo e contra todos, tiveram a coragem de se opor à barbárie, escondendo e salvando judeus e não judeus, resistentes ou simples pessoas, arriscando frequentemente a própria vida. Ensinar o Holocausto no século XXI evoca esses “Justos das nações” título a eles atribuído por Israel em reconhecimento da sua acção de salvamento. Entre eles nunca será demais lembrar Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus (França) que à revelia do seu governo e arriscando a sua carreira e bem-estar pessoal e familiar concedeu milhares de vistos à multidão de refugiados que procurava desesperadamente escapar da Europa ocupada.
Portugal declarou a neutralidade política durante a guerra e desde o seu início muitos judeus e outros perseguidos tentaram escapar aos nazis obtendo um visto de trânsito em Portugal. Mas, à medida que chegavam mais refugiados, a política de fronteiras foi-se tornando mais apertada: os cônsules só podiam conceder vistos depois de autorizados pela polícia política e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e, após a ocupação alemã de Paris em Junho de 1940, apenas a quem dispusesse de um bilhete de saída de Portugal e de um visto de entrada num país de exílio. Apesar de todas estas dificuldades, houve mais de cem mil refugiados que conseguiram salvar-se através de Portugal, a maioria entrando clandestinamente ou com vistos dados por Aristides de Sousa Mendes. “Era realmente meu objectivo salvar toda aquela gente, cuja aflição era indescritível”, afirmará mais tarde Aristides de Sousa Mendes.
A sua coragem teve um preço exorbitante: Salazar demitiu-o e o cônsul ficou na miséria sendo obrigado a viver da caridade para sustentar a sua numerosa família até à morte em 1954. Outros diplomatas portugueses souberam também fazer prova de humanidade e compaixão: Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho, na Hungria; José Luis Archer, em Paris; Lencastre e Menezes, em Atenas; Giuseppe Agenore Magno, cônsul honorário em Milão, todos eles concederam vistos sem autorização, comprometendo as suas carreiras e vidas pessoais.
No entanto, nenhum salvou tantos, nem pagou um preço tão elevado como Aristides de Sousa Mendes. Talvez por isso, no Yad Vashem, em Jerusalém, onde o cônsul tem uma árvore plantada em seu nome na Ala dos Justos, as autoridades israelitas considerem que entre todos, foi Aristides de Sousa Mendes que sozinho e contra o seu próprio governo salvou mais vidas. “Talvez seja por isso que a sua árvore é a mais alta de todas”, concluem com um sorriso...
A terminar, não quero deixar de saudar a editora Via Occidentalis pela publicação deste livro. Espero que ele contribua decisivamente para ajudar professores e alunos a conhecer e a reflectir sobre a pior catástrofe do século XX. Esta é sem dúvida a melhor maneira de impedir a sua repetição.
EUROPA ENTREVISTA
4ª FEIRA, 10 DE OUTUBRO - 19H05
SÁBADO, 13 DE OUTUBRO - 18H05 (redifusão)
Lisboa 90.4 FM
Europa Entrevista : uma edição de Mónica Peixoto.
Depois de lhes ter sido explicado como as famílias ficaram devastadas com o acto anti-semita, foram encaminhados para a cerimónia Taharat Kevurot (Purificação dos Túmulos), que visou mostrar o repúdio e indignação da Comunidade Judaica, que espera ter sido apenas um acto inédito e isolado.
Representantes das comunidades hindu, ortodoxa, bahai, católica, o alto-comissário para as Minorias, embaixador israelita, Paulo Portas, Esther Mcznick e, entre outros, o Rabi Eliezer Shai Di Martino (estes últimos da comunidade judaica) juntaram--se ontem para condenar a profanação e rezar pelos mortos incomodados.
O presidente da comunidade israelita, José Oulman Carp, afirmou que o vandalismo trouxe à memória as perseguições que o povo judeu sofreu e também o holocausto. “Portugal é uma das melhores democracias do Mundo. Esperemos que se faça justiça”, disse.
Rui Pereira criticou as atitudes racistas e discriminatórias e mostrou estar solidário. “Perante aqueles actos hoje sou judeu, somos todos. E como ministro posso afirmar que estes atentados não ficarão impunes e que não se vão repetir”, afirmou.
Solidário e crítico, Alberto Costa defendeu um estado laico, onde há liberdade e respeito por todos, e disse esperar que os tribunais condenem os profanadores. E, como Rui Pereira, afirmou que hoje “somos todos judeus”.
VÂNDALOS LIBERTADOS
O ‘Lobo nazi’, como se apresenta o skinhead Carlos Seabra, de 24 anos, vandalizou o cemitério judaico em Lisboa no passado dia 25 com João Dourado, de 16. Saltaram o muro e profanaram 17 campas inscrevendo cruzes suásticas e defecando em cima de duas delas. Foram apanhados pela PSP, mas o juiz devolveu-lhes a liberdade no dia seguinte.
PORMENORES
JUDEOFOBIA
O rabi fez questão de afirmar que a vida da comunidade judaica em Portugal e, especificamente em Lisboa, não vai parar por causa dos actos de vandalismo. E chamou à atenção para a ainda existente judeofobia.
DEPOIS DA SUKOT
A festa das cabanas – Sukot– é para os judeus o ponto máximo de alegria do ano. Terminada a festa de sete dias, onde se come em frágeis cabanas, a comunidade judaica juntou-se para condenar a profanação.
Correio da Manhã/Ângela Lopes
Charlotte Salomon não é uma desconhecida no Yad Vashem que já expôs uma grande parte da sua obra. No entanto, a recente aquisição do esboço «retrato da menina» revela um novo olhar da artista sobre o Holocausto. A menina em questão Valerie Kampf era uma jovem judia inglesa que estava a passar férias, com a sua mãe, na Cote d’Azur quando eclodiu a 2ª Guerra Mundial. Valeria conta: «Encontrámos Ottilie Moore, uma milionária norte-americana, que era minha madrinha e que propôs à minha mãe levar-me para a América. A minha mãe que se preocupava com a minha segurança aceitou imediatamente e entregou-me como estava, de fato de banho e sem outro vestuário». A jovem Valerie ainda ficou algum tempo na casa de Villefranche-sur-Mer, pertença da senhora Moore, antes de cruzar o Atlântico. Foi durante esse curto período que encontrou Charlotte Salomon, uma jovem judia alemã, nascida em 1917 em Berlim, e enviada para essa localidade onde habitavam os seus tios. Marcada pelo suicídio da sua mãe quando contava apenas nove anos, as cores e os movimentos das suas obras mostravam o olhar lúcido com que Charlotte abordava a realidade. No «retrato de uma menina» que o Museu de Arte do Holocausto do Yad Vashem acaba de comprar é a doçura e a nobreza com que uma jovem de oito anos suporta corajosamente a separação da sua mãe, que Charlotte reproduz. Charlotte Salomon morre deportada em Outubro de 1943.
Plagge abrigou cerca de 1.200 judeus numa oficina mecânica, salvando-os da morte. A restante da população do gueto de Vilnius foi exterminada na Segunda Guerra.
O major alemão, que morreu em 1957, foi homenageado no Memorial Yad Vashem, o museu do Holocausto de Jerusalém.
Facto raro
O director do Yad Vashem, Avner Shalev, disse à BBC que é um acontecimento raro o museu conceder a um alemão que participou da máquina de guerra nazi o título de "Righteous Among the Nations" (Justo das Nações).
"Ele pedia cada vez mais trabalhadores (para a oficina) e fez tudo o que podia para manter as condições relativamente mais humanas", afirmou Shalev.
Plagge, serviu em Vilnius entre Junho de 1941 e Junho de 1944, onde dirigia uma oficina onde eram consertados os veículos militares alemães.
O diploma e a medalha do museu do Holocausto foram entregues ao professor Johann-Dietrich Woerner, presidente da Universidade Técnica de Darmstadt, onde Plagge estudou.
Michael Good e os seus pais estavam presentes na cerimónia, assim como cerca de 30 outros sobreviventes que foram ajudados pelo oficial alemão.
"Passei muito tempo obcecado na minha busca, aprendendo muito sobre ele e procurando que ele fosse reconhecido pelo que fez", disse Good.
A investigação foi difícil, já que o médico americano teve de juntar testemunhos de sobreviventes espalhados por todo o mundo.
Avner Shalev contou que uma das principais cartas de Plagge ao alto comando militar alemão foi descoberta recentemente nos arquivos.
"Queríamos ter certeza de que ele não tinha cometido crimes contra a humanidade, por isso é que levou tanto tempo (para a homenagem). Todos os sobreviventes disseram que ele salvou as suas vidas", disse Shalev.
Famílias unidas
O director do museu afirmou que, dos 1200 trabalhadores judeus protegidos pelo major alemão, 500 eram homens e o restante, mulheres e crianças.
Plagge disse aos seus superiores que manter as famílias judias unidas motivava os trabalhadores a render mais – uma posição que contrariava a política das tropas nazis.
Quando os soviéticos se aproximavam da capital lituana e o extermínio dos judeus foi acelerado pelos nazis, Plagge contou aos trabalhadores o que estava acontecendo, permitindo que centenas de judeus fugissem antes que fosse tarde demais.
Plagge entrou para uma lista de 20.757 homens e mulheres homenageados pelo Yad Vashem por terem salvado judeus durante a Segunda Guerra.
Há apenas 410 alemães na lista, dos quais muito poucos eram militares.
Uma das figuras ilustres da lista é Oskar Schindler, que também salvou cerca de 1200 judeus que trabalhavam na fábrica de munições que ele controlava – a história, parecida com a do major Plagge, foi retratada em A Lista de Schindler, de Steven Spielberg.
*Jaime Vándor Koppel, professor, ensaísta e poeta. Nasceu em Viena em 1933, refugiado em Budapeste em 1939, sobrevive na Hungría às perseguições dos judeus e à IIª Guerra Mundial. Doutorado em Filosofía e Letras pela Universitat de Barcelona, em cuja Secção de Filologia Semítica deu aulas de Língua e Literatura Hebreia e Historia do Judaísmo Moderno e Contemporâneo, desde l958 até à sua jubilação em 2003. Fundador da Associació de Relacions Culturals Catalunya-Israel (ARCCI), em l979. Chanceler do Consulado de Israel em Barcelona em 1994, Cônsul Honorário em funções durante 1997. Jaime Vándor acumula o doloroso balanço de ter 150 membros da sua família, por parte materna, assassinados no Holocausto, e perto de 50 por parte do seu pai.
«Para além do facto de exprimirem reconhecimento pelo trabalho realizado pelo Yad Vashem através do mundo, estes prestigiantes prémios internacionais mostram que a memória do Holocausto tem um profundo significado para a compreensão e a coexistência entre as famílias das nações, hoje e através dos tempos», afirmou A. Shalev justificando estas distinções honoríficas.
Acreditando que a transmissão da memória do Holocausto não conhece fronteiras políticas nem barreiras linguísticas, Avner Shalev inaugurou em Janeiro de 2007 o novo sítio virtual em farsi do Yad Vashem, na mesma ocasião em que o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad fazia declarações negacionistas.
Em declarações à Agência Lusa, a porta-voz da Comunidade Israelita de Lisboa, Esther Mucznik, considerou «lamentável que num Portugal democrático, livre se verifiquem acontecimentos de carácter racista e anti-semitista».
«Isto torna-nos apreensivos e indignados», acrescentou, frisando que «é a primeira vez» que o cemitério é vandalizado desta forma.
A comunidade apresentou queixa às autoridades, que detiveram dois jovens suspeitos, e vai dar conhecimento do «acto puro de racismo e anti-semitismo» ao governo e à Comissão da Liberdade Religiosa.
Em comunicado hoje divulgado, a Comunidade Israelita de Lisboa esclareceu que, na noite de terça para hoje, cerca de 20 túmulos no Cemitério Judaico de Lisboa foram vandalizados e nas pedras das lápides inscritas suásticas nazis.
Por sua vez, o Comando Metropolitando da PSP de Lisboa anunciou que foram detidos, na terça-feira, dois homens, de 16 e 24 anos.
Portugal manifestou-se durante a segunda metade da década de 1980. Em, 1986, em Cabanas de Viriato, terra natal de Aristides de Sousa Mendes, é criada uma “Comissão de Homenagem ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes”. Em Maio do ano seguinte, em Washington, na Embaixada de Portugal, o Presidente da República, Mário Soares, entrega à família Sousa Mendes a Ordem da Liberdade, no grau oficial. Em 1988, a Assembleia da República, sob proposta do Deputado Jaime Gama, aprova, por unanimidade, a reintegração do Cônsul na Carreira Diplomática, com promoção a Embaixador.
Outras homenagens se seguiram. Em 1990, em Montreal, no Canadá, deu-se o nome de Aristides de Sousa Mendes a um parque no centro da cidade. Três anos depois, a RTP 2, exibiu o documentário “O Cônsul injustiçado”, de Diana Andringa, Teresa Olga e Fátima Cavaco, mais tarde, também exibido pelo canal francês “France 3”. Em Maio de 1994, foi plantada, em Israel uma floresta de 10.000 árvores com o seu nome no Deserto do Negev. Em Bordéus, nesse mesmo mês, no Jardim da Resistência, o Presidente da República, Mário Soares, descerra um busto de Aristides de Sousa Mendes, oferecido pela comunidade portuguesa residente na cidade, e uma placa comemorativa no edifício do antigo Consulado de Portugal. O nome de Aristides de Sousa Mendes é, ainda, atribuído a uma rua e a um liceu de Bordéus. Outras ruas, noutros países, incluindo Portugal, viriam a partilhar o mesmo nome. Em Março de 1995, a Fundação Pro-Dignitate promove uma Homenagem Nacional a Aristides de Sousa Mendes. Nessa cerimónia o Cônsul é condecorado postumamente com a grande Cruz da Ordem de Cristo. Nesse mesmo mês, o Metropolitano de Lisboa associa-se à Homenagem, com uma medalha de João Cutileiro colocada na Estação do Parque, dedicada aos Direitos do Homem. Três anos depois, em Novembro, também o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, homenageia o Cônsul. No final da década de 90, no Brasil, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro atribui-lhe a Condecoração da Cidade. Em Portugal, o Presidente da República, Jorge Sampaio, desloca-se a Cabanas de Viriato, para homenagem a Sousa Mendes. Aí, nesse mesmo ano, junto ao jazigo onde repousam os restos mortais de Aristides de Sousa Mendes, D. António Monteiro, bispo de Viseu, pede publicamente perdão, em nome da hierarquia da igreja, pela recusa de auxílio a Aristides de Sousa Mendes e sua família, quando estes a solicitaram. No início do ano 2000, foi constituída a Fundação Aristides de Sousa Mendes, tendo-lhe sido doada a quantia de 50 mil contos pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Jaime Gama. Nos dias 2 e 3 de Abril do mesmo ano, decorreu a II Homenagem Nacional a Aristides de Sousa Mendes promovida pela Fundação Pro-Dignitate. Em simultâneo, inaugura-se a exposição “VISAS FOR LIFE” nas Nações Unidas, em Nova Iorque. Em Setembro, outra exposição, intitulada “Vidas poupadas: A acção de três diplomatas portugueses na II Guerra Mundial” foi inaugurada em Newark, promovida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros – Instituto Diplomático.
Em Junho de 2004 comemorou-se, em Portugal, o quinquagésimo aniversário do falecimento de Aristides de Sousa Mendes.
Em 2005, inaugurou-se a exposição na Biblioteca Nacional resultante da colaboração entre a Biblioteca Nacional, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Fundação Aristides de Sousa Mendes e, em Paris, a Unesco, dedicou dois Concertos à Memória de Aristides de Sousa Mendes tendo entregue uma parte da receita à Dra. Maria Barroso, Presidente da Fundação Aristides de Sousa Mendes.
* Aliterações, metáforas e oxímoros
* ANED - Associazione nazionale ex deportati politici nei campi nazisti
* Fundación Memoria del Holocausto
* Fundação Aristides de Sousa Mendes
* Liga de Amizade Israel-Portugal
* Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes
* The International Raoul Wallenberg Foundation