Domingo, 17 de Junho de 2007
Durante a presentação de um novo livro "Pío XII. Eugenio Pacelli, um homem no trono de Pedro", de autoria do vaticanista italiano, Andrea Tornielli, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário-Geral da Santa Sé, afirmou que a acusação de que o Pio XII fechou os olhos ao Holocausto não passa de uma «lenda negra» e que o Pontífice trabalhou na sombra para salvar muitos judeus.
Para ilustrar esta afirmação contou que o Vaticano tentou alistar judeus nas suas forças de segurança. Em Outubro de 1943, o Vaticano pediu autorização aos alemães para constituir uma força policial – a Guarda Palatina – constituída por 1425 homens e com o objectivo de vigiar o Vaticano e os edifícios da Igreja, em Roma. As forças alemãs e os fascistas pediram o nome, a data de nascimento e a origem racial destes homens e a nossa gente disse que não, concluiu o Cardeal.
Bertone não deu outros detalhes, mas naquele mês os nazis prenderam os judeus do gueto de Roma, a maioria dos quais pareceu no campo de extermínio de Auschwitz, enquanto algumas famílias católicas arriscaram a vida para esconder algumas centenas.
Marcello Pezzetti, perito em história hebraica, mostrou-se perplexo perante as afirmações de Bertoni. «Se o Vaticano tem estes documentos deve mostrá-los», referindo-se aos documentos citados pelo cardeal que continuam secretos.
O secretário de Estado vaticano assegurou que Pio XII (cujo pontificado durou de 1939 a 1958) foi um papa "prudente", e que as razões dessa prudência foram apresentadas por ele mesmo, em 1943, quando disse que seu comportamento era "no interesse dos que sofrem, para não agravar sua situação".
O Cardeal Bertone argumentou que uma campanha da Igreja contra Hitler, então, teria carretado não apenas uma espécie de "suicídio premeditado", mas teria também "acelerado a eliminação de um maior número de judeus e de sacerdotes".
No seu livro, Tornielli conta que Hitler considerava Pio XII como "um inimigo".
Tendo pontificado nos duros anos do nazismo, Pio XII é acusado, por numerosos historiadores, de ser antisemita e de não ter elevado sua voz com mais força, contra o regime hitleriano, acusação que sempre foi rechaçada pela Santa Sé. Da mesma forma, os judeus sempre lhe atribuíram um "silêncio culposo" diante do Holocausto.
Domingo, 15 de Abril de 2007
O núncio apostólico, monsenhor Antonio Franco, anunciou à agência Ansa, e citado pelo La Repubblica, que participaria nas comemorações das vítimas do Holocausto, previstas para esta noite no Yad Vashem, contrariando a intenção de não participar em protesto pela legenda que memorial colocou na foto do Papa Pio XII.
O volte face deu-se quando o presidente do Yad Vashem, Avner Shalev, escreveu ao núncio prometendo-lhe «reconsiderar o modo como o papa Pio XII é apresentado».
«Nunca tive intenção de dissociar-se das celebrações mas simplesmente chamar a atenção para o modo como o papa é apresentado. Assim não há motivo para manter esta tensão e, portanto, participarei na cerimónia», concluiu Monsenhor Franco.
Quinta-feira, 12 de Abril de 2007
Papa Pio XII em 1956 (Emmevi)
O memorial Yad Vashem de Jerusalém recebeu com «comoção e decepção» a recusa do representante do Vaticano em Israel em assistir às cerimónias de recordação das vítimas Shoah nesse museu, uma ausência que o núncio atribuiu ao seu desejo de respeitar a memória do Papa Pio XII.
«Fico aborrecido em ir ao Yad Vashem e ver como Pio XII está ali representado», declarou o monsenhor Antonio Franco, núncio apostólico em Israel, falando hoje à agência de notícias dos bispos italianos, SIR, confirmando assim a informação publicada pelo jornal israelita Yediot Ahronoth (Ynet). «Estamos abalados e decepcionados por o representante do Vaticano em Israel ter escolhido não respeitar a memória da Shoah ao não participar na cerimónia oficial em que o Estado israelita e o povo hebraico recordam as vítimas. Isto contradiz as declarações do Papa expressas durante a visita ao Yad Vashem, sobre a importância de recordar a Shoah», assinala uma nota emitida pelo Yad Vashem, citada pelo Corriere della Sera.
Pio XII, que esteve à frente a Igreja católica entre 1938 e 1958 e aparece numa imagem exposta numa das salas do museu, inaugurado em 2005, e cuja legenda faz menção à acção controversa do Papa em relação ao regime nazi. Muitos historiadores destacam a passividade de Pio XII, enquanto o Vaticano enfatiza as suas intervenções para tentar salvar os judeus de Roma da deportação quando a cidade foi ocupada pelas tropas de Hitler.