Terça-feira, 6 de Novembro de 2007

A Vida dos Livros por Guilherme d'Oliveira Martins

Ensinar o Holocausto no Século XXI” de Jean-Michel Lecomte, com prefácio de Esther Mucznik (Via Occidentalis, 2007) é uma obra de valor pedagógico promovida pelo Conselho da Europa que nos alerta para a importância de cuidar da memória de modo a prevenir a intolerância, a cegueira e a barbárie com que o mundo se confrontou no século XX, num tempo que muitos anunciavam de paz e de entendimento.

 
Auto-retrato de Félix Nussbaum (1942 ?), Museu Nussbaum, Osnabrük. O Autor foi morto na câmara de gás em Auschwitz (3.8.1944)


NÃO HÁ HISTÓRIA MAIS DIFÍCIL… - Hannah Arendt disse que “não há história mais difícil de contar em toda a história da Humanidade” do que a do “Holocausto”. E porquê? “Em primeiro lugar pelo sofrimento intenso de um povo, estilhaçando com fragor insuportável os limites do entendimento humano” – diz-nos Esther Mucznik. “Até hoje, o genocício nazi, programado, sistemático e colectivo permanece para a civilização humana como a referência ética do mal absoluto”. Mas como foi tudo isto possível, quando ninguém esperava? E como foi possível que acontecesse a partir de um país de arte e de cultura? O certo é que tudo aconteceu de um modo sistemático e terrível. Daí que a obra agora saída corresponda à procura de uma consciência moral e cívica que possa contrapor o respeito ao ressentimento e a liberdade à servidão. Nesse sentido, o projecto do Conselho da Europa visa “suscitar o interesse dos jovens pela história recente do nosso continente e ajudá-los a estabelecer ligações entre as razões históricas e os desafios com os quais estão confrontados na Europa actual”. Está em causa a ajuda à criação de uma identificação europeia, o desenvolvimento da análise crítica, a sensibilização para a importância da diferença e do outro e o encorajamento aos professores para lançarem as bases de “um ensino europeu da história”. A dimensão europeia na Educação passa, assim, por um melhor conhecimento da realidade, de tragédia, de diálogo e de conflito, que nos antecedeu, com todas as suas implicações. O estudo da “Shoah” (expressão que significa “catástrofe” e que é utilizada para designar o genocídio perpetrado pelos nazis e seus aliados contra os judeus) e do “Holocausto” (sacrifício) deve, no fundo, permitir-nos ir além das apreciações simplistas ou do mero culto do ressentimento. É essencial entender as fontes da banalização do mal, para que, no futuro, possamos prevenir a sua ocorrência. De facto, entre o excesso de memória e a sua ausência, temos de encontrar um equilíbrio que permita não esquecer, sem fazer da lembrança um motivo de vingança.


APRENDER COM OS FACTOS – Ao longo de 50 fichas elaboradas criteriosamente, podemos obter uma informação bastante rigorosa e circunstanciada sobre o judaísmo, sobre a doutrina nazi, sobre os campos de concentração, sobre as perseguições (também dos Rom/Ciganos e dos homossexuais), sobre a decisão de extermínio, sobre as câmaras de gás e a cremação das vítimas, sobre os campos de extermínio (Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Lublin-Maidanek, Sobibor, Treblinka); sobre os “sonderkommandos” (encarregados das operações nos campos de morte – desde a preparação para as câmaras de gás até aos fornos crematórios); sobre a situação nos diversos países afectados; sobre as reacções dos judeus; sobre “os justos” (que ajudaram o povo judaico durante a Shoah); sobre as opções dos Aliados; sobre o número de mortos (cerca de 5 milhões de judeus); sobre o regresso dos sobreviventes; sobre o silêncio; sobre o revisionismo e o negacionismo; sobre a filmografia do tema e sobre os sítios na Internet. Trata-se de um conjunto de informações sobre o inominável e o injustificável. Como entender tanta cegueira e tanta desumanidade? E como interpretar os resultados da discricionariedade pura? E fica a afirmação de Primo Levi que “menciona um conjunto de ‘pequenas razões’, pequenas partículas de humanidade que se juntaram e que conduziram à sua sobrevivência – por outras palavras, uma sucessão de pequenos pedaços de sorte, de acontecimentos fortuitos”. Por outro lado, fica a realidade insofismável que hoje não pode sofrer contestação: “apesar do reduzido número de sobreviventes, foram registados muitos testemunhos, o que nos leva a considerar por que razão todos contaram o mesmo e por que razão não existem quaisquer provas do contrário”.


A DIFICULDADE DA MENSAGEM – À medida que o tempo passa, atenua-se, contudo, o impacto do drama real e prevalece a ideia mítica ora dos actos heróicos de resistência ora do carácter difuso da culpa e da responsabilidade. No entanto, mais do que os mitos, o que importa é fixar a actualidade do tema e o risco da repetição de acontecimentos tão terríveis e dramáticos. Daí que nas orientações dadas aos professores, no âmbito deste projecto educativo, haja muitas vezes dúvidas e hesitações sobre a eficácia menor ou maior da utilização de determinado exemplo ou instrumento. De facto, temos de contar com a “dificuldade da mensagem” e com o facto dela ter tudo a ver com a construção de uma sociedade mais humana, onde os direitos, as liberdades, as garantias e a responsabilidade pessoal têm de ter um lugar cimeiro. E se nos lembrarmos do exemplo de Janusz Korczak no gueto de Varsóvia vemos que o melhor método educativo é o da prática e do exemplo: “desenvolveu um sistema de organização democrática dos orfanatos – as crianças eram tratadas como indivíduos com plenos direitos e tomavam parte na administração da comunidade”.


DEVER DE MEMÓRIA? - Tzvetan Todorov afirmou que «les enjeux de la mémoire sont trop grands pour être laissés à l’enthousiasme ou à la colère» (Les Abus de la Mémoire, Arléa, 1995, p. 14). Esta é a preocupação fundamental que temos de preservar, a fim de que não haja interpretações unilaterais e abusivas sobre a memória. O dever de memória obriga ao rigor crítico e a prestar justiça – o que também leva à necessidade de compreender as circunstâncias da história para além da vitimação e da ameaça. O entusiasmo e a cólera levam à incompreensão de que a memória se refere à humanidade, e de que, nesse sentido, tem de apelar permanentemente à capacidade de compreender e de nos pormos no lugar do outro.

retirado da web do Centro Nacional de Cultura

publicado por MJ às 23:14
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Terça-feira, 9 de Outubro de 2007

Aristides de Sousa Mendes no Teatro da Trindade

«A Desobediência»
Teatro da Trindade - 11 de Outubro a 25 de Novembro
(
Largo da Trindade, 7a, 1200-466, Lisboa)
4ª-feira a sábado às 21h30 e domingo às 16h00 | M/12

No verão de 1940, quando as tropas alemãs invadiram a França, a salvação de milhares de homens e mulheres que fugiam do regime de terror instaurado na Europa pelo nazismo, dependia de um visto de trânsito para um país neutro. Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus, dividido entre o cumprimento das ordens ditadas por Salazar e a sua consciência, optou por obedecer a esta e desobedecer àquelas. O resultado seria a salvação de cerca de 30 mil judeus e o seu afastamento definitivo da carreira diplomática. É esse conflito dramático, as circunstâncias em que se desenrolou e as suas dolorosas consequências, que constituem o tema desta peça, escrita em 1995, publicada em 1998, traduzida em espanhol, hebraico, búlgaro e inglês.

texto
Luiz Francisco Rebello
encenação
Rui Mendes - cenografia e figurinos Ana Paula Rocha - desenho de luz Carlos Gonçalves
interpretação
Rogério Vieira, Carmen Santos, Igor Sampaio, Joana Brandão, João Didelet, José Henrique Neto, Luís Mascarenhas, Marques D’Arede, Nuno Nunes, Rita Loureiro, Rui Santos, Rui Sérgio, Sérgio Silva e Sofia de Portugal
produção
INATEL/Teatro da Trindade 2007
publicado por MJ às 23:00
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Ensinar o Holocausto aos jovens

EUROPA ENTREVISTA

4ª FEIRA, 10 DE OUTUBRO - 19H05

SÁBADO, 13 DE OUTUBRO - 18H05 (redifusão)

Lisboa 90.4 FM

A propósito da edição em Portugal do livro "Ensinar o Holocausto no século XXI", de Jean-Michel Lecomte (Editora Via Occidentalis), o Europa Entrevista convida esta semana Esther Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, para falar das ameaças da extrema-direita na Europa (como a recente profanação de campas no Cemitério Israelita em Lisboa) e do actual momento do processo de Paz no Médio Oriente.

Europa Entrevista : uma edição de Mónica Peixoto.

Emissão também disponível online em www.radioeuropa.fm / Jazza-me muito... ou através da powerbox da TV Cabo.
publicado por MJ às 10:57
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Segunda-feira, 8 de Outubro de 2007

Somos todos Judeus

«Assim que chegaram ao cemitério judaico de Lisboa, os ministros da Justiça, Alberto Costa, e da Administração Interna, Rui Pereira, foram, de kipas na cabeça, visitar as campas profanadas pelos ‘skins’ no passado dia 25. As cruzes suásticas estavam escondidas por 17 panos brancos que cobriam os túmulos em sinal de respeito pelos mortos. As pedras mais pequenas que tradicionalmente decoram as campas estavam ainda fora do sítio. Mais ninguém pode visitá-las para não invadir a intimidade das famílias.

Depois de lhes ter sido explicado como as famílias ficaram devastadas com o acto anti-semita, foram encaminhados para a cerimónia Taharat Kevurot (Purificação dos Túmulos), que visou mostrar o repúdio e indignação da Comunidade Judaica, que espera ter sido apenas um acto inédito e isolado.

Representantes das comunidades hindu, ortodoxa, bahai, católica, o alto-comissário para as Minorias, embaixador israelita, Paulo Portas, Esther Mcznick e, entre outros, o Rabi Eliezer Shai Di Martino (estes últimos da comunidade judaica) juntaram--se ontem para condenar a profanação e rezar pelos mortos incomodados.

O presidente da comunidade israelita, José Oulman Carp, afirmou que o vandalismo trouxe à memória as perseguições que o povo judeu sofreu e também o holocausto. “Portugal é uma das melhores democracias do Mundo. Esperemos que se faça justiça”, disse.

Rui Pereira criticou as atitudes racistas e discriminatórias e mostrou estar solidário. “Perante aqueles actos hoje sou judeu, somos todos. E como ministro posso afirmar que estes atentados não ficarão impunes e que não se vão repetir”, afirmou.

Solidário e crítico, Alberto Costa defendeu um estado laico, onde há liberdade e respeito por todos, e disse esperar que os tribunais condenem os profanadores. E, como Rui Pereira, afirmou que hoje “somos todos judeus”.

VÂNDALOS LIBERTADOS

O ‘Lobo nazi’, como se apresenta o skinhead Carlos Seabra, de 24 anos, vandalizou o cemitério judaico em Lisboa no passado dia 25 com João Dourado, de 16. Saltaram o muro e profanaram 17 campas inscrevendo cruzes suásticas e defecando em cima de duas delas. Foram apanhados pela PSP, mas o juiz devolveu-lhes a liberdade no dia seguinte.

PORMENORES
JUDEOFOBIA
O rabi fez questão de afirmar que a vida da comunidade judaica em Portugal e, especificamente em Lisboa, não vai parar por causa dos actos de vandalismo. E chamou à atenção para a ainda existente judeofobia.

DEPOIS DA SUKOT
A festa das cabanas – Sukot– é para os judeus o ponto máximo de alegria do ano. Terminada a festa de sete dias, onde se come em frágeis cabanas, a comunidade judaica juntou-se para condenar a profanação.

Correio da Manhã/Ângela Lopes

publicado por MJ às 18:37
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Sexta-feira, 5 de Outubro de 2007

Os «Protocolos dos Sábios de Sião» continuam a fazer escola...

Numa coluna de opinião no Diário dos Açores de 23/08/2007 assinada por Marcus de Noronha da Costa podemos dar conta do anti-semistismo serôdio, povoado de fantasmas, de origem monárquico-católico a propósito de uma edição crítica dos «Protocolos dos Sábios de Sião» lançada para o mercado. Conta o autor que a actuação dos judeus é que motivou o Holocausto:

«Mais uma vez acaba de aparecer nas montras das livrarias a 4ª edição portuguesa da obra famosa e muito polémica – Os Protocolos do Sábios de Sião –, editada por uma editora "fantasma", e com um metódico prefácio de Bernardino Luís Franco.
O prefaciador defende a tese de o livro em questão ter sido produzido pelos agentes da – Okhrana – (polícia secreta do czarismo russo) para lançarem a confusão nas reformas estruturais que o Czar Nicolau II queria levar a efeito.
Para Sergei Nilus, promotor da edição russa do livro em questão, os – Protocolos – foram as actas do Iº Congresso Sionista – da Basileia de 1897 que tinha como objectivo a conquista do poder politico e económico pelo judaísmo, servindo-se estes como seu "braço armado" da maçonaria.
Um facto é evidente e não necessita de demonstração, mesmo que o texto tenha sido forjado pela – Okhrana –, quem o ler atentamente pode constatar factualmente que a maioria esmagadora deste se confirmou na manipulação económica e politica da sociedade por essa minoria não integrada e super-individualizada nas nações que os acolheram e tiveram como objectivo máximo a formação do "barril de pólvora" que é o Estado de Israel.
No aspecto económico e financeiro basta pegar nos indicadores dos índices das grandes fortunas a nível mundial dos Estados Unidos e da Europa mais desenvolvida, onde são predominantes as famílias sionistas que controlam dentro do mais lúcido – capitalismo selvagem – os circuitos de riqueza dos países onde se instalaram. Claro está que estas posições privilegiadas na economia conduziram na década de 30 do século passado ao aparecimento de movimentos radicais, que precipitaram situações atrozes contra os direitos humanos que levaram à monstruosidade do – Holocausto.
Apesar do sucedido, o sionismo internacional continua a manipular brilhantemente os números das vítimas, cifrando-o em 6 milhões de judeus e eliminando liminarmente um milhão e duzentos mil opositores ao – nazismo – que vão desde católicos, protestantes, muçulmanos, ciganos, homossexuais e outros grupos liquidados impiedosamente pela ideologia do critério da – pureza da raça–!
Com o conflito latente entre o mundo árabe e Israel, o livro em causa tem sofrido inúmeras edições no Egipto, Síria, Irão, Iraque e Paquistão servindo de meio de propaganda efectiva para o radicalismo político que se desenvolve naqueles países.
Deve-se recordar que o industrial estadunidense Henry Ford divulgou em folhetim no seu jornal – Dearborn Independent – os Protocolos –, que tiveram imenso sucesso na sociedade … porque os leitores constataram que o texto correspondia exactamente às posições efectivas que o – sionismo – controlava na economia americana!
Em Portugal o livro apareceu traduzido em 1923 por J. A. Viana Peixoto e Francisco Pereira Peixoto, e logo a seguir em 1925 Mário Saa, poeta e escritor companheiro de Fernando Pessoa e dos escritores modernistas da época escreve – A Invasão dos Judeus – na sociedade portuguesa.
É evidente que os judeus em Portugal não constituem qualquer ameaça nem rácica nem economicamente, vivem normalmente, facto que não acontece nem no Brasil e especialmente na Argentina.
A presente edição que à primeira vista parece académica e muito narrativa, não passa de mais uma das múltiplas imagens do – politicamente correcto –, que o sionismo internacional e os serviços secretos israelitas desejam divulgar entre os incautos.»
publicado por MJ às 19:16
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Sexta-feira, 28 de Setembro de 2007

Cemitério Judaico de Lisboa vandalizado II

Espancou um imigrante quando festejava o aniversário do nascimento de Hitler, a 20 de Abril, e guardava fotografias de crianças negras com a frase ‘Por favor não alimentem os animais’. Está acusado de vários crimes mas, terça-feira, o ‘Lobo nazi’, como se apresenta o skinhead Carlos Seabra, vandalizou o cemitério judaico em Lisboa. Foi apanhado pela PSP e o juiz mandou-o ontem à tarde em liberdade.

Seabra é quase veterano do movimento neonazi em Portugal, aos 24 anos pertence à Frente Nacional desde a fundação em 2004. E é um militante de armas. Enverga camisolas com a cruz suástica e, em Abril, a Judiciária apanhou-lhe uma espingarda semi-automática, uma granada e dois punhais.

Está acusado num megaprocesso com 240 páginas por discriminação racial, ofensas à integridade física qualificadas e três crimes de posse ilegal de armas proibidas. Vai ter de responder em tribunal entre 36 skinheads acusados, mas, ao contrário do líder Mário Machado, aguarda o julgamento em liberdade.

O ‘Lobo nazi’ recebeu a acusação do Ministério Público (MP) no último dia 15 mas, dez dias depois, na noite de terça-feira, voltou a atacar. Recrutou o iniciado João Dourado, 16 anos, e partiram os dois para o cemitério judaico de Lisboa, na Avenida Afonso III. Saltaram o muro e rasparam vinte campas com objectos contundentes, gravando cruzes suásticas antes de defecarem em dois túmulos. Os prejuízos são de vários milhares de euros.

Um popular ouviu barulho e chamou a PSP às 22h50. Os dois skins acabaram apanhados em flagrante e, enquanto um tinha ‘Morte aos traidores’ tatuado no braço, o outro tinha a frase na camisola.

João também é membro da Frente Nacional, que visa “a guerra racial e acções violentas, pela supremacia da raça branca”, segundo o MP. E para eles não há lugar a “negros, judeus, ciganos ou homossexuais – são inimigos de Portugal”.

O MP pediu a prisão preventiva para os dois skinheads, sobretudo pelo perigo de alarme social, mas o juiz de Instrução Criminal decidiu-se pelas apresentações aos domingos à PSP.

"É LAMENTÁVEL NUM PORTUGAL DEMOCRÁTICO"
A comunidade israelita repudia os actos “de puro racismo e anti-semitismo” no cemitério judaico de Lisboa, segundo a porta-voz Esther Mucznik. “É lamentável que num Portugal democrático e livre se verifiquem estes acontecimentos e isto torna-nos apreensivos e indignados”, naquela que foi “a primeira vez que um cemitério foi vandalizado desta forma”.

São actos que “infelizmente não surpreendem”, diz Abílio Mourão, presidente da mais antiga comunidade judaica portuguesa, em Belmonte, Castelo Branco, apesar de na sua zona a convivência sempre ter sido “pacífica”. E também o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas reagiu ontem, condenando “de forma clara este tipo de actos. É um crime contra a comunidade judaica e uma ofensa à sociedade civil portuguesa e à democracia”.

TINHAM ALVOS JUDEUS MARCADOS
Os cartões dos telemóveis de Carlos Seabra, o ‘Lobo nazi’, e João Dourado denunciaram-nos entre terça-feira à noite, quando foram detidos, e ontem à tarde, antes de serem presentes ao Tribunal de Instrução Criminal. Os investigadores apanharam várias ligações dos dois à Hammerskin Nation, a elite do movimento neo-nazi europeu – e “guardavam fotografias de pessoas ligadas à comunidade judaica. Alvos marcados”.

Um dos crimes em que incorrem os skinheads não prevê prisão preventiva – profanação, punido até dois anos de cadeia – mas o outro, dano qualificado, pelos elevados estragos nas campas do cemitério, tem moldura penal entre dois e oito anos – suficiente para ser aplicada a prisão preventiva no novo Código de Processo Penal (acima de cinco anos). E o Ministério Público pediu prisão preventiva para os dois, dado o elevado perigo de reincidência e alarme social, mas o juiz decidiu-se pelo Termo de Identidade e Residência, medida de coacção mais leve, com apresentações ao domingo à PSP. E tudo apesar do “desprezo manifestado pelos dois pela comunidade judaica” – num contexto de “reacção e indiferença” à acusação que o MP proferiu há duas semanas contra 36 skins, entre eles o ‘Lobo nazi’.

PORMENORES
PROIBIDO RECORRER
O Ministério Público é obrigado a conformar-se com a liberdade dos dois skinheads e não pode recorrer da decisão do juiz de instrução criminal, pelo artigo 219 do novo Código de Processo Penal. O MP já só o poderia fazer em benefício do arguido – a prisão preventiva está fora de questão.

RITUAL DE INICIAÇÃO
O skinhead João Dourado já pertence à Frente Nacional, mas, aos 16 anos, passa ainda por rituais de iniciação ao movimento neo-nazi, apurou o CM. E a profanação ao cemitério judaico foi um deles – a forma de subir na estrutura nacional.

EXIBIÇÕES NA NET
O ‘Lobo nazi’ lançou um dia no site da Frente Nacional: “Continua a quebrar as regras até ao fim”. E num vídeo intitulado ‘Nazi paraquedista’, no site do Youtube, colocou imagens suas a envergar uma camisola com a cruz suástica enquanto arrancava um cartaz da CDU.


Correio da Manhã - Henrique Machado com M.C.
publicado por MJ às 19:40
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Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007

Cemitério Judaico de Lisboa vandalizado

Cemitério Judaico: Comunidade repudia acto «anti-semitismo»

A Comunidade Israelita de Lisboa repudiou hoje o acto inédito «de puro racismo e anti-semitismo» de vandalização, na terça-feira, de cerca de duas dezenas de túmulos do Cemitério Judaico da capital com cruzes suásticas.

Em declarações à Agência Lusa, a porta-voz da Comunidade Israelita de Lisboa, Esther Mucznik, considerou «lamentável que num Portugal democrático, livre se verifiquem acontecimentos de carácter racista e anti-semitista».

«Isto torna-nos apreensivos e indignados», acrescentou, frisando que «é a primeira vez» que o cemitério é vandalizado desta forma.

A comunidade apresentou queixa às autoridades, que detiveram dois jovens suspeitos, e vai dar conhecimento do «acto puro de racismo e anti-semitismo» ao governo e à Comissão da Liberdade Religiosa.

Em comunicado hoje divulgado, a Comunidade Israelita de Lisboa esclareceu que, na noite de terça para hoje, cerca de 20 túmulos no Cemitério Judaico de Lisboa foram vandalizados e nas pedras das lápides inscritas suásticas nazis.

Por sua vez, o Comando Metropolitando da PSP de Lisboa anunciou que foram detidos, na terça-feira, dois homens, de 16 e 24 anos.

publicado por MJ às 10:03
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Domingo, 19 de Agosto de 2007

O longo percurso da reabilitação de Aristides de Sousa Mendes

O processo de reabilitação de Aristides de Sousa Mendes foi longo. Israel foi o primeiro país a reconhecer o gesto do Cônsul, atribuindo-lhe, a título póstumo, a Medalha de Ouro dos “Justos”, do Yad Vashem, em 1967. Nesse ano, foi também plantada uma árvore, em sua memória, na Alameda dos Justos, em Jerusalém.

Portugal manifestou-se durante a segunda metade da década de 1980. Em, 1986, em Cabanas de Viriato, terra natal de Aristides de Sousa Mendes, é criada uma “Comissão de Homenagem ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes”. Em Maio do ano seguinte, em Washington, na Embaixada de Portugal, o Presidente da República, Mário Soares, entrega à família Sousa Mendes a Ordem da Liberdade, no grau oficial. Em 1988, a Assembleia da República, sob proposta do Deputado Jaime Gama, aprova, por unanimidade, a reintegração do Cônsul na Carreira Diplomática, com promoção a Embaixador.

Outras homenagens se seguiram. Em 1990, em Montreal, no Canadá, deu-se o nome de Aristides de Sousa Mendes a um parque no centro da cidade. Três anos depois, a RTP 2, exibiu o documentário “O Cônsul injustiçado”, de Diana Andringa, Teresa Olga e Fátima Cavaco, mais tarde, também exibido pelo canal francês “France 3”. Em Maio de 1994, foi plantada, em Israel uma floresta de 10.000 árvores com o seu nome no Deserto do Negev. Em Bordéus, nesse mesmo mês, no Jardim da Resistência, o Presidente da República, Mário Soares, descerra um busto de Aristides de Sousa Mendes, oferecido pela comunidade portuguesa residente na cidade, e uma placa comemorativa no edifício do antigo Consulado de Portugal. O nome de Aristides de Sousa Mendes é, ainda, atribuído a uma rua e a um liceu de Bordéus. Outras ruas, noutros países, incluindo Portugal, viriam a partilhar o mesmo nome. Em Março de 1995, a Fundação Pro-Dignitate promove uma Homenagem Nacional a Aristides de Sousa Mendes. Nessa cerimónia o Cônsul é condecorado postumamente com a grande Cruz da Ordem de Cristo. Nesse mesmo mês, o Metropolitano de Lisboa associa-se à Homenagem, com uma medalha de João Cutileiro colocada na Estação do Parque, dedicada aos Direitos do Homem. Três anos depois, em Novembro, também o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, homenageia o Cônsul. No final da década de 90, no Brasil, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro atribui-lhe a Condecoração da Cidade. Em Portugal, o Presidente da República, Jorge Sampaio, desloca-se a Cabanas de Viriato, para homenagem a Sousa Mendes. Aí, nesse mesmo ano, junto ao jazigo onde repousam os restos mortais de Aristides de Sousa Mendes, D. António Monteiro, bispo de Viseu, pede publicamente perdão, em nome da hierarquia da igreja, pela recusa de auxílio a Aristides de Sousa Mendes e sua família, quando estes a solicitaram. No início do ano 2000, foi constituída a Fundação Aristides de Sousa Mendes, tendo-lhe sido doada a quantia de 50 mil contos pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Jaime Gama. Nos dias 2 e 3 de Abril do mesmo ano, decorreu a II Homenagem Nacional a Aristides de Sousa Mendes promovida pela Fundação Pro-Dignitate. Em simultâneo, inaugura-se a exposição “VISAS FOR LIFE” nas Nações Unidas, em Nova Iorque. Em Setembro, outra exposição, intitulada “Vidas poupadas: A acção de três diplomatas portugueses na II Guerra Mundial” foi inaugurada em Newark, promovida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros – Instituto Diplomático.

Em Junho de 2004 comemorou-se, em Portugal, o quinquagésimo aniversário do falecimento de Aristides de Sousa Mendes.

Em 2005, inaugurou-se a exposição na Biblioteca Nacional resultante da colaboração entre a Biblioteca Nacional, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Fundação Aristides de Sousa Mendes e, em Paris, a Unesco, dedicou dois Concertos à Memória de Aristides de Sousa Mendes tendo entregue uma parte da receita à Dra. Maria Barroso, Presidente da Fundação Aristides de Sousa Mendes.

in «Fundação Aristides de Sousa Mendes»

publicado por MJ às 11:34
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Segunda-feira, 16 de Julho de 2007

Guarda: Biblioteca vai acolher centro sobre Sousa Mendes

«O edifício do Solar Teles de Vasconcelos, onde funciona a actual Biblioteca Municipal da Guarda, vai ser transformado num local de estudo e divulgação da vida e obra do cônsul Aristides Sousa Mendes.
No âmbito do projecto «Memorial da Vida Aristides Sousa Mendes», que envolve a Câmara Municipal da Guarda e a Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), o edifício será convertido num local que permitirá «homenagear e estudar o trabalho do cônsul», que durante a II Guerra Mundial, salvou 30 mil pessoas do holocausto nazi.
Segundo Jorge Patrão, presidente da RTSE, o espaço funcionará como «centro de documentação, de filmes e de fotografias», permitindo o estudo da vida do cônsul e o apuramento dos dados relacionados com a identidade das pessoas que ele salvou.
O mesmo projecto contempla a instalação, na cidade da Guarda e na fronteira de Vilar Formoso, de monumentos com os nomes dos refugiados - 12 mil judeus e 18 mil não judeus que foram salvos do holocausto nazi pelo cônsul de Portugal em Bordéus (França).
Em relação à fronteira, foi ainda referido na cerimónia de lançamento do projecto, que a CP e a Câmara Municipal de Almeida, irão decidir a melhor forma de criar naquela vila fronteiriça um espaço que permita evocar «a chegada dos refugiados» a Portugal, a bordo do comboio Sud Express.
O dinamizador do Memorial, Jorge Patrão, adiantou à Agência Lusa que os projectos serão alvo de uma candidatura ao próximo QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional), admitindo que a sua concretização possa estar efectivada «no final de 2008».
Foi também anunciado pela Região de Turismo da Serra da Estrela que o feito de Aristides de Sousa Mendes será objecto da publicação de um livro e de um filme, intitulado «O Selo», pelo realizador George Felner.
Na cerimónia, o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Joaquim Valente, referiu que o Memorial dedicado a Aristides de Sousa Mendes irá ficar sedeado no Solar Teles de Vasconcelos, que em breve ficará vago, com a mudança dos serviços da Biblioteca Municipal para um novo imóvel.
O autarca fez votos para que o futuro espaço, que será integrado na Rota das Judiarias, criada pela RTSE, «projecte a região da Guarda na Europa e no Mundo».
O Embaixador de Israel em Portugal, Aaron Ram, também presente na apresentação de hoje, disse que em Israel Aristides de Sousa Mendes «é considerado um herói, um homem que se comportou como um ser humano numa época em que muito poucos o fizeram».
Salientou que «ocupa um lugar de honra no Museu Memorial de Yad Valshem, em Jerusalém», e valorizou o Memorial que será edificado na Guarda «ao homem que foi tão importante para o povo judeu e para a nação portuguesa».
Por sua vez Álvaro Sousa Mendes, neto do cônsul e presidente da Fundação que tem o nome de Aristides Sousa Mendes, mostrou-se «muito emocionado» com o projecto do Memorial que será «um hino à vida».
Recordou que a Fundação a que preside foi criada em 2000 e que neste momento tem a «preocupação grande» de recuperar a casa do seu avô, em Cabanas de Viriato.
«A Fundação comprou a casa em 2001 e hoje pretendemos fazer ali uma Casa Museu, um monumento dedicado a Aristides de Sousa Mendes e aos refugiados, com uma biblioteca sobre a II Guerra Mundial e o período do holocausto», disse.
O projecto de arquitectura está a ser executado neste momento, esperando que «até final do ano» possa ter «um projecto com estimativas de custos» para ser apresentado ao Estado e aos mecenas.
O diplomata português Aristides de Sousa Mendes, nascido em Julho de 1885, em Cabanas de Viriato, foi o cidadão do mundo que mais seres humanos salvou durante a II Guerra Mundial.
Os salvo-condutos passados em Bordéus e Bayonne (França) permitiram a passagem da fronteira franco-espanhola dos Pirinéus e a entrada em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso.
O cônsul português em Bordéus (França), entre os dias 17 e 19 de Junho de 1940, assinou 30 mil vistos para salvar pessoas do holocausto nazi, contrariando as ordens do Governo de Salazar, situação que o levaria à expulsão da carreira diplomática.
Morreu a 03 de Abril de 1954 em Lisboa, no Hospital da Ordem Terceira.»
Diário Digital / Lusa
publicado por MJ às 19:21
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Sexta-feira, 15 de Junho de 2007

Visita obrigatória

Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes
Objectivo do MVASM
Concretizar a Investigação histórica sobre Aristides de Sousa Mendes e o correspondente contexto histórico.
Identificar, o maior número possível, das 30.000 pessoas salvas por Aristides e seus descendentes.
Colocar Portugal na Rede Internacional do Holocausto, devido à acção de Aristides de Sousa Mendes.
Promover a figura de Aristides de Sousa Mendes, ao possibilitar o conhecimento e o acesso ao conhecimento, de uma grande figura Nacional e Mundial – Aristides de Sousa Mendes que, em condições muito adversas, salvou cerca de 30 000 vidas. (Há semelhança de Oskar Schindler, Aristides poderá ser considerado o Schindler Português. Schindler que salvou na II Guerra Mundial cerca de 1 200 vidas tornou-se mundialmente famoso, através do filme de Steven Spielberg)
Divulgar este Património Imaterial Nacional, é cumprir de uma forma pioneira – através da utilização das Novas Tecnologias - uma função social e pedagógica da maior importância e actualidade.
Possibilitar que, a qualquer hora, em qualquer lugar do globo, qualquer um possa conhecer o Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes e Portugal.
Construir as bases para um Centro de Documentação, que poderá ser concretizado numa exposição, num documentário e até na futura Casa-Museu, criando-se assim, uma relação directa e optimizada de custos/ execução.
publicado por MJ às 17:51
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Sábado, 9 de Junho de 2007

Ensinar o Holocausto

Pretendendo aliar a pesquisa na net ao estudo do Holocausto, a professora Fátima Gomes criou um blogue de apoio ao estudo do nazismo e do Holocausto para os seus alunos do 9º ano. Alguns trabalhos práticos e ligações para os alunos explorarem são uma valiosa ferramenta de elevado potencial e que começa a ser explorada na tentativa de culmatar a fraca bibliografia existente.

Dedicado essencialmente a professores, alunos e encarregados de educação vai ser publicado brevemente em Portugal a tradução do livro de Jean-Michel Lecomte, «Ensinar o Holocausto no Século XXI», editado originalmente em francês pelo Conselho da Europa.
publicado por MJ às 11:41
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Sexta-feira, 8 de Junho de 2007

Pensar o impensável: Filosofia e Holocausto

Artigo de José Caselas, Escola Secundária de Miraflores, publicado no blogue de Rolando Almeida.

Este artigo resulta de uma comunicação/debate realizada na Esc. Sec. de Miraflores (28.11.2006), para turmas do 12º Ano com a disciplina de História. Embora não tendo a disciplina de Filosofia no seu currículo, estes alunos estão perfeitamente capazes de compreender conceitos filosóficos transversais e pensar novas categorias do político, desde que exista essa parceria entre professores de Fil/Hist.

Se aceitarmos a análise de Hannah Arendt, o campo [de concentração ou extermínio] é inseparável da organização totalitária. Ele concretiza o principal objectivo do sistema totalitário que compreende duas fases conectadas entre si: a constituição de uma comunidade do povo (Volksgemeinschaft) com um futuro auspicioso e utópico numa sociedade perfeita e a concomitante exclusão dos que não têm direito de cidadania. O campo, o Lager, surge, assim, como o lugar de exclusão da ordem jurídica e de erradicação da vida que não merece viver, que é indigna de viver (lebensunwerten Leben). Este será o ponto de chegada de Agamben ao tomar o campo num sentido alargado a todo o domínio político da modernidade, fazendo do evento dramático de Auschwitz a viragem biopolítica por excelência do nosso tempo.
No seu artigo “As técnicas da ciência social e o estudo dos campos de concentração”
[1], Arendt sublinha a dificuldade de compreensão do totalitarismo pela necessidade de punir pessoas inocentes e a natureza antiutilitária do campo que o diferenciava das prisões, dos guetos e dos campos de trabalhos forçados. O campo de concentração é o expoente máximo do sistema totalitário porque consuma a experiência da dominação total transformando o ser humano num ser condicionado, desintegrando a sua personalidade e a pessoa jurídica.

A biopolítica e os regimes totalitários (Foucault e Agamben)

Foucault introduz o conceito de biopoder em 1976, destacando a partir de finais do séc. XVIII a possibilidade de uma politização da vida, do ser biológico, do encontro entre a História e o biológico, o corpo. Qual o objecto dessa biopolítica? São os processos de conjunto da população, que visam fenómenos globais como a reprodução, a natalidade e a morbidade, a proporção de nascimentos, taxa de reprodução, fecundidade, natalidade e longevidade. Para ele o biopoder foi um elemento indispensável no desenvolvimento do capitalismo, a fim de assegurar o controlo dos corpos pelo aparelho produtivo. O sexo funcionou também como regulação das populações (a descendência, a saúde colectiva) a sexualização da infância e a histerização do corpo da mulher.
Desse modo, a biopolítica é uma tecnologia de poder que não se aplica ao homem individual, ao homem-corpo, mas ao homem-espécie enquanto população. É portanto, a gestão da população que está em causa nesta tecnologia, tendo como objectivo o incremento da vida e as instituições de assistência. Ao contrário da soberania, centrada no corpo do rei, logo feudal, uma soberania que fazia morrer e deixava viver, a biopolítica é um outro tipo de regulamentação que se centra na vida, que consiste em fazer viver e em deixar morrer; uma bio-regulamentação operada pelo Estado. Assim, o conceito de biopoder elaborado por Foucault é um instrumento poderoso para pensar o genocídio nazi. Ele surge tematizado na última sessão do curso «Il faut défendre la société» e no último capítulo do primeiro volume da História da sexualidade, quando se alude precisamente a esse momento em que a vida, o bios, é inserido no domínio político – a estatização do biológico – . Foucault, encontra no nazismo uma faceta paradoxal, expondo à morte não só os inimigos mas os próprios cidadãos. O que permite que o biopoder, como intensificação da vida, passe a exercer uma função de morte e aniquilação como no nazismo? Como pergunta Foucault: «De que modo esse poder, que tem essencialmente como objectivo fazer viver, pode deixar morrer? Como exercer o poder da morte, como exercer a função da morte, num sistema político centrado no biopoder?»
[2] O que provoca esta viragem na biopolítica é o racismo, visto que este visa a morte do outro, da raça nefasta ou inferior, mantendo a mais pura, a que é considerada sadia. Mais do que um heterofobia, ele constitui sobretudo um princípio eugénico.
É o racismo que assegura a cisão entre os que devem beneficiar de todas as garantias de segurança vital e os que devem ser aniquilados. O exemplo mais flagrante é o arranque do programa de eutanásia na Alemanha nazi, com a aniquilação dos próprios cidadãos deficientes mentais e outros. Como escreve Foucault: «O racismo, acho eu, assegura a função de morte na economia do biopoder, segundo o princípio de que a morte dos outros é o fortalecimento biológico da própria pessoa na medida em que ela é membro de uma raça ou de uma população, na medida em que se é elemento numa pluralidade unitária e viva.» «Portanto, o racismo está ligado ao funcionamento de um Estado que é obrigado a utilizar a raça, a eliminação das raças e a purificação da raça para exercer o seu poder soberano.»
[3] A depuração da raça é uma intervenção biopolítica que exigiu a utilização de conceitos científicos e psicológicos como a hereditariedade e o instinto.[4] Este dispositivo de poder/saber sustentava a Volksgemeinschaft segundo a falsa ideia de uma absoluta coesão do povo alemão que seria dissemelhante de todos os outros povos, com o projecto de uma raça nova a criar no futuro.
O domínio das massas no sistema totalitário trata desse alargamento à população mas circunscrita a uma comunidade, como os arianos no caso do nazismo, com exclusão de todos os que não são dignos de lhe pertencer. A exaltação desse sentimento völkisch é um dos traços distintivos racistas mais evidentes no nazismo. Em 1935 a Lei de Cidadania do Reich (Reichsbürgergesetz) distinguia entre cidadãos e residentes. Os primeiros eram os alemães que poderiam servir o povo e a nação. Os judeus estavam excluídos da capacidade de cidadania e inscreviam-se naquela segunda categoria juntamente com as mulheres solteiras.
Por seu turno, Agamben ao fazer um uso lato do conceito de biopoder inverte a lógica foucaultiana, identifica-o com o poder soberano, o poder de fazer morrer ou deixar viver. Para Agamben o poder soberano produz a vida nua (nuda vita), o Homo sacer, ou seja, aquele que é destituído de direitos; qualquer um pode matá-lo sem cometer homicídio. Escreve Agamben : «[…] é que os judeus não foram exterminados ao longo de um louco e gigantesco holocausto, mas literalmente, como Hitler tinha anunciado, «como piolhos», isto é, como vida nua. O plano em que se deu o extermínio não é o da religião nem o do direito, mas o da biopolítica.»
[5]
Se para Foucault, o biopoder remete ainda para a norma – a sociedade de normalização – uma norma, contudo, que não é jurídica mas institucional, que está presente nas instituições como suplemento de poder que funciona em rede, nas micro-vigilâncias, para Agamben, o poder constituinte e o soberano excedem a norma; de tal forma que a decisão soberana suspende toda e qualquer ordem jurídica (o soberano é o que decide sobre o estado de excepção). As duas perspectivas são juridicamente anti-normativistas embora Agamben inscreva convictamente a soberania na sua relação com a vida nua, isto é, a relação essencial entre esta e a violência jurídica. Neste contexto, ele identifica a democracia com os Estados totalitários concluindo que todos somos potenciais Homo sacer.
[6] Se em Foucault, a biopolítica mantém o seu carácter paradoxal, oscilando entre a intensificação da vida e o excesso mortífero, para Agamben ela é sobretudo produção da vida nua, que nos atinge a todos real ou virtualmente.

Democracia e estado de excepção

Poderemos legitimamente erigir a sociedade concentracionária, o campo, a paradigma político contemporâneo, matriz totalizadora da democracia e da modernidade, como faz Agamben? Os historiadores traçam de Hitler um perfil que se adequa melhor a uma dominação carismática de monarca feudal reinando num caos sem sistema, com uma erosão da administração pública, que muito pouco se compatibilizaria com uma democracia parlamentar.
[7] Quem lê os relatos dos sobreviventes, verifica igualmente quão exagerada pode parecer a formulação de Agamben ao fazer do campo o nomos da modernidade. Basta atendermos à descrição feita por David Rousset em O Universo concentracionário onde o próprio diz que os vários campos têm pouco de comum com o homem parisiense, de Toulouse ou de Nova Iorque.[8] Estamos em 1946/47 precisamente na mesma altura da obra de Primo Levi, Se isto é um Homem, e Rousset fala-nos de situações de violências quotidianas, sem hierarquias de idades ou profissões. Os campos chefiados pelos Kapos, criminosos de delito comum arregimentados para provocar uma expiação sem fim dos detidos, vão muito para além da destruição física; trata-se de um universo de corrupção generalizada e desordenada apesar da intensa burocracia, onde uma vida pode ser trocada por uma sopa através da delação.
«A tese de uma íntima solidariedade entre democracia e totalitarismo […] deve ser firmemente mantida porque só ela nos permitirá orientar face às novas realidades e às imprevistas convergências deste fim de milénio, abrindo o caminho para a nova política que está em grande parte por inventar.»
[9] Nesta aproximação Agamben toma demasiado à letra a tese de Schmitt que conduz à ideia de que a excepção se incorpora na esfera jurídica devido ao papel do soberano. Por outro lado, Benjamin defende, contra Schmitt que vivemos num estado de excepção permanente, fora de toda a ordem jurídica. A obra de Agamben, O que resta de Auschwitz vai nesse sentido, corroborando posições já assumidas por Primo Levi. Para o autor, a modernidade possui como matriz política oculta o estado de excepção, facto que desvaloriza a democracia representativa, relegando todo o sistema político para um reino de meios sem fins, pleno de arbitrariedades. Se o soberano para Schmitt define a estrutura topológica do estado de excepção (uma vez que ele está dentro e fora da ordem jurídica) é porque a sua palavra tem força de lei (Gesetzeskraft). Agamben destaca a especificidade do nazismo e do estalinismo, com o seu culto da personalidade e a constante indistinção entre o partido e o Estado. Se concordarmos com Agamben, ao defender que na modernidade o Estado de excepção se tornou a regra, somos todos Homo sacer, expostos à violência gratuita, e o nosso sistema político possui dissimulada uma localização deslocante, um campo, onde aparentemente a ordem jurídica está legitimada pela vontade popular mas na verdade a norma jurídica não vigora. Para o autor, é a vida biológica que constitui a charneira entre a democracia e o totalitarismo.[10] É evidente que existem algumas modalidades de campo (onde avultam exemplos como Guantanamo, Abu-Grahib, etc) mas poderemos generalizar sem mais esta noção? Por outro lado, cabe perguntar: em que medida o totalitarismo deu origem a uma politização e a uma medicalização da vida que se mantém ainda hoje? O equilíbrio entre estas duas interrogações não é pacífico, tal como resulta polémico afirmar que as democracias parlamentares são virtualmente idênticas aos Estados totalitários, nazi e estalinista, tal como defende Agamben. Sabemos que na ditadura nacional-socialista e bolchevique não existia oposição, o Estado era uma fachada e a palavra do líder fazia a lei muitas vezes apenas verbal (Führerprinzip). No entanto, se tivermos em conta que as condições ideológicas não se diferenciam totalmente, podemos compreender que a radicalidade com que Agamben coloca a questão não deixa de ter alguma pertinência.
Para Agamben, o campo é o instrumento biopolítico por excelência porque é aí que a vida nua é destituída do seu valor jurídico e exposta à morte. E, mais do que isso, trata-se de um acto que não pode ser testemunhado, visto que nem mesmo os sobreviventes podem dar conta do que ali ocorreu mas apenas os «muçulmanos». O campo é, nestes termos, o espaço de indistinção entre o facto e o direito, entre a excepção e a regra.
[11]
É perigoso fechar os olhos ao que aconteceu na região polaca de Auschwitz, ou em Buchenwald, perto de Weimar onde Goethe tinha uma casa de campo; tal como pode parecer excessivo ver em todo o lado sucursais do Lager alemão.
Esta medicalização da sociedade não foi uma invenção totalitária; a investigação genealógica de Foucault põe a descoberto que a intervenção da medicina, como instância de controlo social fez-se a partir do séc. XVIII não se situando apenas no aparelho de Estado, no que ele designa como nosopolítica.
[12]
O papel da medicina e da biologia foi relevante durante o totalitarismo chegando a desenvolver-se um darwinismo social onde vigorava a lei do mais forte; «[…] os médicos nazis passaram a desempenhar uma parte vital no processo do morticínio sistemático. Foram os médicos que tomaram a decisão que foi fundamental para o prosseguimento da operação levada a cabo em Auschwitz: quem, dos que chegavam nos transportes, devia continuar a viver e quem estava destinado a morrer. A participação activa da classe médica neste processo de selecção era essencial para os nazis por duas razões – uma de ordem prática e outra de ordem filosófica.»[13] Este papel dos médicos conferia credibilidade científica à selecção.
A doutrina de Schmitt exposta na sua obra Teologia política intenta, assim, uma resposta à observação de Benjamin sobre a existência de uma violência pura e anómica, remetendo-a para um contexto jurídico. «O estado de excepção é o espaço onde ele tenta enquadrar a ideia benjamiana de uma violência pura e inscrever a anomia no próprio corpo do nomos.»
[14] O campo põe em acção uma violência anómica devido ao estado de excepção decidido pelo soberano; apenas este pode decidir pela suspensão da norma porque está dentro e fora dela. Se pensamos que muitas das decisões políticas na Alemanha nazi se deviam à simples «vontade do Führer», entendemos o alcance deste decisionismo em Schmitt.
O totalitarismo é inseparável da medicalização, da intervenção biológica e médica na ordem social, processo que não só não desapareceu da sociedade actual como conheceu um incremento considerável. Toda a linguagem de Hitler transbordava de imagens de doença, infecção, contágio e pestilência.
[15]
Neste esforço para pensar o impensável, Agamben (a vida nua), Arendt (o totalitarismo, o refugiado), Schmitt (o estado de excepção), Benjamin (a violência pura), Bauman (o genocídio), a filosofia encontra o seu limite, reivindica para si a tarefa de conciliar razão e violência.
Agamben defende que a máquina biopolítica continua a produzir a excepção soberana desde a primeira guerra mundial, atravessando o fascismo e o nacional-socialismo, até aos nossos dias. Esta máquina que atingiu agora o seu apogeu poderá levar o Ocidente à guerra civil mundial.
[16]
É preciso re-equacionar o biopoder à luz das resistências e dos conformismos, no ponto em que a vida pode eventualmente escapar à politização para que o campo, sempre no horizonte, não se transforme numa realidade presente como nos doze anos de nazificação da Europa.

Notas
[1] Arendt, H., Compreensão e Política e Outros Ensaios, Relógio d’Água, 2001, p. 146.
[2] Foucault, «Il faut défendre la société», Cours au Collège de France, 1976, p. 227.
[3] Foucault, «Il faut défendre la société», p. 230.
[4] Tecnologia do instinto é o que Foucault designou o movimento de eugenia sob o nazismo aproximando-o mesmo da Psicanálise: «Tecnologia do instinto: eis o que foi o eugenismo desde os seus fundadores até Hitler. Por outro lado, tivemos em face da eugenia, a outra grande tecnologia dos instintos, o outro grande meio que foi proposto simultaneamente, numa sincronia notável, a outra grande tecnologia da correcção e da normalização da economia dos instintos que é a psicanálise.» Les Anormaux, Cours au Collège de France, 1974-1975, p. 124.
[5] Agamben, Homo sacer, Il potere sovrano e la nuda vita, Piccola Biblioteca Einaudi, 1995, p. 127. E reforça: «O totalitarismo do nosso século tem o seu fundamento nesta identidade dinâmica entre a vida e a política e, se não a tivermos em conta, permanece incompreensível.» Ibid., p. 165.
[6] Agamben, Ibid., p. 127.
[7] Cf. a este respeito, Ian Kershaw, Hitler, Gallimard, 1995, p. 313; David Welch, Hitler, Perfil de um ditador, Ed. 70, 2001, p. 117. Esta última apresenta em poucas páginas uma síntese brilhante sobre o nazismo.
[8] Rousset, D., L’univers concentrationnaire, Les Éditions de Minuit, 1965, p. 47.
[9] Agamben, op. cit., p. 14.
[10] «E é justamente na medida em que a vida biológica com as suas necessidades se tornou por todo o lado o facto politicamente decisivo, que é possível compreender a rapidez, que seria de outro modo inexplicável, com que no nosso século as democracias parlamentares se tornaram Estados totalitários e os Estados totalitários se converteram quase sem solução de continuidade em democracias parlamentares.» Agamben, op. cit., p. 134 (sublinhado nosso). Zygmunt Bauman em Modernité et holocauste, La fabrique éditions, 2002, também alerta nesse sentido: «Numerosos traços das sociedades «civilizadas» contemporâneas encorajam o recurso a holocaustos genocidiários.», p. 148.
[11] É o que Agamben defende literalmente, acrescentando que sempre que estas condições se realizam estamos em presença de um campo: «Se questo è vero, se l’essenza del campo consiste nella materializzazione dello stato di eccezione e nella conseguente creazione di uno spazio in cui la nuda vita e la norma entrano in una soglia di indistinzione, dovremo ammettere, allora, che ci troviamo virtualmente in presenza di un campo ogni volta che viene creata una tale struttura.» op. cit., p. 195.
[12] Cf. «La politique de la santé au XVIIIe siècle» e «Crise de la médecine ou crise de l’antimédecine» in Dits et écrits, Vol. III, Gallimard, 1994.
[13] Rees, Laurence, Auschwitz, Os nazis e a «solução final», D. Quixote, 2005, p. 243. Robert Proctor em Racial Higiene, Medecine under the nazis, Massachusetts/London: Harvard University Press, 1988, sublinha o papel dos médicos numa época em que o próprio Hitler era visto como o médico do povo alemão surgindo ao lado de Gerhard Wagner chefe da Liga dos Médicos Nacional-Socialistas. Da mesma forma, a biologia aplicada à política desempenhou uma função relevante na chamada ciência racial. «Não eram apenas os Judeus ou os deficientes mentais ou físicos, mas outros grupos estigmatizados também como “doentes” e “degenerados” pelos cientistas raciais da Alemanha. Judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, atrasados mentais, tuberculosos, e uma vasta classe de “antisociais” (alcoólicos, prostitutas, toxicodependentes, sem-abrigo e outros grupos) estava toda destinada à destruição.» Proctor, op. cit., p. 212.
[14] Agamben, Stato di Eccezione, Homo sacer II, Bollati Boringhieri, 2003, p. 70-71.
[15] Cf. Bauman, op. cit., p. 125. Este autor destaca a racionalidade instrumental, a desumanização burocrática e a indiferença moral do nazismo. Para o autor o judeu foi identificado com a destruição da segurança que nos trouxe a modernidade. O nazismo tornou-se assim pré-moderno rejeitando essa tendência moderna que constituía o judeu. No entanto, é preciso guardar algumas distâncias e Bauman adverte: «O facto de o holocausto ser moderno não se segue que a modernidade constitua um holocausto.» op. cit., p. 159.
[16] Agamben, Stato di Eccezione, p. 110 – 111. E acrescenta numa visão quase apocalíptica: «Do estado de excepção efectivo em que vivemos, não é possível o retorno ao estado de direito, visto que o que está em questão agora são os próprios conceitos de «estado» e de «direito». Ibid., p. 111.
publicado por MJ às 23:55
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Sábado, 2 de Junho de 2007

Na rota de Aristides...

Os Amigos de Aristides Sousa Mendes informam que alguns familiares e amigos de Sousa Mendes vão repetir os passos de Aristides de Sousa Mendes e de milhares de refugiados no 67º aniversário dos dias de desespero de Junho 1940.
O programa, inicialmente previsto para o ano passado, começa agora em
Bordéus, passa por Hendaye, Cabanas de Viriato, Coimbra e termina no porto de Lisboa.
Bordeaux, sábado, 16 Junho
10h Recepção à familia na Esplanada Charles de Gaulle
14h Colocação de flores no monumento a Aristides de Sousa Mendes
15 h Entrega póstuma da medalha de
Citoyen d'honneur de Gironde
16h30 Recepção no Goethe Institut
18 h Consulado de Portugal seguido de jantar às 20h e da entrega à familia do Grande Prémio Humanitário da França
domingo,17 Junho,
Dia da Consciência
10h, Missa na Igreja Saint Louis presidida pelo Cardinal Ricard
12h45 Récepção na Sinagoga
segunda-feira, 18 Junho
10h Recepção à la Mairie de Bordeaux (Câmara Municipal)
14h
Centre Jean Moulin, 16 h partida de Bordeaux para Hendaye.
19h Jantar
Ville d'Anglet
terça-feira, 19 Junho
9 h na Bibliotéca d'Anglet, 11 h colocação de uma placa no posto fronteiriço de
Biriatou
quarta-feira 20-21 Junho
Jornada em
Cabanas de Viriato, visita à Casa do Passal, Cemitério e Beijós
Apresentação dos projectos para o Museu
22-23 Junho
Universidade de Coimbra, comemoração do 100 do curso de Sousa Mendes, e visita aTomar
23-24 Junho Jornadas em Lisboa
A viagem é precedida de diversas conferências e concertos em Bordeaux, ville d'Anglet e Bayonne. A viagem celebra o Acto de Consciência quando Sousa Mendes decidiu tentar salvá-los a todos e chega a Cabanas a 20-Junho, o Dia Mundial do Refugiado e do
asilo.
Contactos:
AFPV 18 Allée du Colonel Touchard, 64 600 Anglet
tel 05 59 52 17 55
bmangletd@numericable.fr
publicado por MJ às 12:53
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Terça-feira, 1 de Maio de 2007

Orkut / Holocausto

No site Orkut estão alojadas várias comunidades, nomeadamente «O Holocausto», com 1921 membros, onde em língua portuguesa são abordadas várias matérias deste tema, com destaque para o combate ao negacionismo. Recomendo aos leitores que se registem e participem.
Para encontrarem a comunidade escrevam a palavra «holocausto» no local de pesquisa do Orkut .

O fundador da comunidade também administra o interessante site:
publicado por MJ às 15:13
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Domingo, 15 de Abril de 2007

A cerimómia de Lisboa vista por Kiki Anahory Garin

Sêlo postal emitido pelos CTT em 2004, comemorativo do centenário da Sinagoga Shaaré Tivká


O Dia de Recordação do Holocausto e do Heroísmo comemora-se em Israel a 27 de Nissan do calendário judaico, que como sabem difere do nosso que é o gregoriano. Esta data foi estabelecida pelo Knesset de Israel em 1959, e é feriado nacional; a maioria dos estabelecimentos estão encerrados, as bandeiras a meia haste… é um dia de luto nacional.
Este ano, o Yom Hashoá é celebrado, amanhã, dia 16 de Abril, tendo como tema principal: “Testemunhas e Testemunhos: até que saibam as últimas gerações”, ou seja, que o testemunho dos sobreviventes possa ser transmitido de geração em geração.
As Comemorações, de acordo com as tradições judaicas, começam na véspera ao pôr‑do‑sol e terminam no final do dia seguinte.
Incluem diversas cerimónias oficiais, colóquios e conferências algumas dedicadas especialmente aos jovens, tendo como objectivos principais, por um lado, recordar os 6 milhões de judeus assim como os cerca de 2 milhões de não-judeus vítimas do regime nazi, por outro, homenagear todos aqueles que, mesmo pondo em risco as suas vidas, ajudaram a salvar os judeus, e por último, ensinar às novas gerações o que foi o Holocausto.
A televisão e a Rádio transmitem não só as cerimónias, mas também programas alusivos a esta página negra da história dos Judeus e da Humanidade.
As Comemorações têm lugar por todo o pais, mas as principais decorrem no Yad Vashem, em Jerusalém.
Este Memorial do povo Judeu aos seus cerca de 6 milhões de mortos durante o Holocausto(calcula-se que cerca de 1,5 milhões eram crianças) engloba não só, um enorme complexo de museus, onde se podem ver diversas exposições, assistir a conferências e filmes sobre este genocídio, mas também, monumentos, memoriais e jardins, entre eles o Jardim dos Justos dedicados à memória dos não‑judeus que ajudaram a salvar um judeu que fosse dos horrores do nazismo.
Destas cerimónias destaco algumas por serem as mais significativas:
Dia 15 de Abril
Às 20.00 horas:
Cerimónia de Abertura do Dia da Lembrança do Holocausto, com a presença do Presidente e do Primeiro-ministro de Israel, de altas individualidades, de sobreviventes, seus filhos e família, na esquina da Praça do Ghetto de Varsóvia.

Nesta cerimónia, 6 Tochas, representando os 6 milhões de Judeus, são acendidas por 6 sobreviventes.
Dia 16 de Abril
Às 10.00 horas:
As sirenes aéreas soam durante 2 minutos. Durante este período, o trabalho é interrompido, transportes públicos e automobilistas param… Israel mantém-se inerte e em silêncio em memória das suas vítimas.

Das 10.30 às 12.30 horas:
Tendo como tema “Sob cada pessoa existe um nome”, membros do público, vão lendo os nomes das vítimas.

Às 13.00 horas:
Cerimónia principal que decorre no “Hall of Remembrance”.

Um dos momentos mais altos deste dia é, quando diversas personalidades, nomeadamente, os sobreviventes e familiares das vítimas, depositam flores no solo, em frente das Tochas.
Às 19.00 horas:
Final das cerimónias com uma conferência sob o tema: “Encontrar a Força”.

Provavelmente, alguns dos que me estão a ler, estranham o facto de existirem duas datas diferentes para recordarem o mesmo acontecimento, pois como sabem as Nações Unidas, em Novembro de 2005, instituíram o dia 27 de Janeiro como “O Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto” (ver meu post na Tag Holocausto).
Também eu fiquei intrigada com este facto. Tentei encontrar uma explicação mas nada descobri.
Nos últimos anos, foram vários os países e muitas as Comunidades Judaicas, espalhadas pelo Mundo, que adoptaram o dia 27 de Nissan, como o Dia da Recordação do Holocausto e do Heroísmo.
A Comunidade Israelita de Lisboa associou-se também a este dia. A sua Vice‑presidente, Esther Mucznik, explicou durante os noticiários da Rádio Europa Lisboa (90.4 FM) o significado da Cerimónia que se realizou hoje às 19.45 na Sinagoga de Lisboa.
Foi com grande orgulho mas de coração pesado que estive presente na Cerimónia que decorreu na Sinagoga de Lisboa, prestando assim a minha homenagem aos 6 milhões de Judeus mortos, bem como a todas as outras vítimas do Holocausto.
Foi uma cerimónia simples mas muito comovente, pois além de um vídeo com testemunhos de sobreviventes, foram ainda lidos diversos testemunhos.
Seguindo o lema de que: “Sob cada pessoa existe um nome” foram, também, lidos dezenas de nomes de vítimas, cujos familiares pertencem a esta Comunidade. Foi observado um minuto de silêncio.
Seguiu-se uma pequena cerimónia religiosa em memória de todas as vítimas.

Não podemos esquecer e menos ainda deixar esquecer, pois os mortos do Holocausto não são simples números mas sim pessoas com um nome.
Termino com uma inscrição que consta da base de dados do Yad Vashem, que inclui mais de 3 milhões de nomes de vítimas do Holocausto.
“Gostaria que alguém recordasse que um dia, algures, viveu uma pessoa chamada David Berger”.
Shalom, Kiki Anahory Garin

publicado por MJ às 23:38
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Terça-feira, 10 de Abril de 2007

Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes - Herói do Holocausto
de José Ruy

Preço: EUR 11,00
Editor: Âncora Editora
ISBN: 9789727801374
Ano de Edição: 2005
N.º de Páginas: 32

Natural de Cabanas de Viriato, Aristides de Sousa Mendes, é um dos filhos mais ilustres do Concelho de Carregal do Sal. Diplomata da época do holocausto nazi, o Cônsul foi, acima de tudo, um homem generoso, exemplo de coragem e tolerância numa época em que as directivas do Governo Nacional eram colocadas acima de qualquer imperativo de consciência. E esse foi, acima de qualquer outro, o motivo que transformou Aristides de Sousa Mendes numa das grandes figuras do panorama histórico e político nacional. Através do desfolhar destas breves páginas pretende-se divulgar, dar a conhecer, de uma forma cativante, o Homem cujo gesto humanitário salvou a vida a mais de 30 mil pessoas que eram perseguidas pelo regime de Hitler. Foi este acto que conduziu Aristides de Sousa Mendes e toda a sua família à miséria. Aliás, o Cônsul faleceu, sozinho, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, no ano de 1954. Mas o seu gesto só muito mais tarde viria a ser reconhecido. No ano em que lhe prestamos homenagem, quando passa meio século sobre a sua morte, convidamo-lo a descobrir passagens da sua vida a que continuam alheios muitos de nós. Aristides da Sousa Mendes, estou em crer, merece-nos este carinho, este gesto... esta memória! (Existe uma edição desta obra em hebraico).
Livro recomendado para o 6º ano de escolaridade, destinado a leitura autónoma e/ou a leitura com apoio do professor ou dos pais.
publicado por MJ às 12:18
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Segunda-feira, 9 de Abril de 2007

Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial

Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial
Irene Flunser Pimentel

Preço: EUR 30,00
Editor: Esfera dos Livros
ISBN: 9789896260132
Ano de Edição: 2006
N.º de Páginas: 436

A partir dos anos 30, com a subida de Hitler ao poder e durante a II Guerra Mundial, Portugal tornou-se num porto de abrigo para milhares de judeus e refugiados políticos que fugiam das perseguições nazis e do Holocausto. Chegavam por via terrestre, através de Espanha, ou em navios fretados, muitas vezes graças à ajuda de cônsules portugueses, como Aristides de Sousa Mendes, que desobedecendo às ordens do regime e às políticas de restrição de entrada da PVDE, lhes concedeu vistos que significaram a sua salvação.
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